A administradora Soraya Mourad, que mora em Beirute, durante um passeio próximo à região do porto, onde aconteceu a explosão - Arquivo pessoal
A administradora Soraya Mourad, que mora em Beirute, durante um passeio próximo à região do porto, onde aconteceu a explosãoArquivo pessoal
Por Bete Nogueira

No final da tarde de ontem, os moradores de Beirute, capital do Líbano, foram surpreendidos com uma explosão de grandes proporções na região do porto. Uma fumaça negra e tóxica foi vista de longe. De perto, casas destruídas e a população ainda contando seus mortos e feridos. O estrondo foi tão forte que foi ouvido até em Chipre, ilha do Mar Mediterrâneo próxima ao Líbano, segundo Soraya Mourad, brasileira que mora em terras libanesas desde 1995.

"O som da explosão foi muito forte. Meu primeiro pensamento é de que seria um terremoto. Corri para me proteger debaixo de um batente de porta, pensei em descer para o abrigo subterrâneo do prédio, mas quando ouvi as crianças do apartamento de cima chorando, muito assustadas, subi para dar apoio para a mãe delas", conta Soraya, que confessou ainda estar tremendo no momento da entrevista, cerca de uma hora e meia após o ocorrido. 

Horas depois, soube-se que a  explosão aconteceu em um armazém que guardava, há seis anos, 2.750 toneladas de nitrato de amônio, e que não tinha a segurança necessária. O presidente do país, Michel Aoun, disse que a capital deve declarar estado de emergência para as próximas duas semanas. O primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, declarou luto oficial de um dia. Ele disse também que o governo irá investigar os responsáveis pelo armazém. Até agora, contam-se 73 mortos e cerca de três mil feridos.

Soraya, que é administradora com especialização em Marketing, mora a cerca de três quilômetros da região atingida. Suas janelas estavam todas abertas, o que evitou que os vidros se estilhaçassem, como aconteceu no apartamento acima do seu. "É o que mais vejo da minha janela agora: muito vidro e alumínio retorcido de janelas que foram atingidas na vizinhança, carros danificados. Não tem mais fumaça, mas recebemos orientação de evitar sair na rua, pois ainda não sabemos se o ar ficou tóxico." (até a hora da entrevista, ainda não se sabia a origem de tudo).

Pela televisão e internet, o governo apela para que as pessoas doem sangue e que só procurem os hospitais em casos mais graves: além de nenhuma rede hospitalar estar preparada para casos assim, as unidades também tratam dos infectados por coronavírus, o que diminui o número de leitos e aumenta os riscos de uma contaminação de quem chega ferido. Mas essa matemática, infelizmente, não depende da população: todos correm, por socorro, com seus entes queridos machucados na explosão. Mas poderia ser pior.

"Tivemos cinco dias de lockdown e hoje seria o dia das pessoas voltarem aos seus trabalhos. Mas, temendo ainda a contaminação por coronavírus, muitos permaneceram em casa. Isso evitou que o número de atingidos fosse maior", explica a brasileira. No noticiário local, casos de pessoas que voaram metros com o deslocamento de ar, outros que tiveram a audição comprometida e muitas tragédias pessoais, como familiares procurando desaparecidos. 

A administradora, nesses 25 anos de Líbano, já viveu momentos tensos: terremotos, o atentado que levou à morte o ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri e a guerra com Israel, em 2006. Por causa da guerra, inclusive, que os prédios possuem abrigo subterrâneo.

Com uma diferença de fuso horário de 6 horas à frente do horário de Brasília, os parentes de Soraya passaram a hora do almoço procurando por ela, para se certificarem de que ela estava bem, mesmo no meio do caos e da incompreensão do ocorrido até então. "Achei fofo também que, pessoas com quem eu não falava há tempos, tiveram o carinho de me procurar para saber como eu estava", relata.

Localizada em uma península no mar Mediterrâneo, Beirute é o maior porto marítimo do Líbano e um dos mais importantes da região. No entorno, há casas, shoppings, restaurantes e bares (fechados por causa da pandemia) e pontos turísticos. 

 

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