Todos os passageiros e membros da tripulação, de 34 nacionalidades, morreram neste acidente - AFP
Todos os passageiros e membros da tripulação, de 34 nacionalidades, morreram neste acidenteAFP
Por AFP
Paris - Mais de onze anos depois do acidente de um voo que fazia a rota Rio-Paris, a Procuradoria-Geral francesa pediu um julgamento contra a Air France e a Airbus pelo acidente no qual 228 pessoas morreram.

Uma fonte judicial disse à AFP nesta quarta-feira (27) que a Procuradoria-Geral francesa solicitou um julgamento por "homicídio culposo" contra a companhia aérea francesa e a fabricante europeia pelo acidente do voo AF447, que caiu no oceano Atlântico em 1º de junho de 2009.

Todos os passageiros e membros da tripulação, de 34 nacionalidades, morreram neste acidente, o mais mortal da história da Air France.

"Levamos mais de 11 anos remando contra a maré, esperando por uma centelha de bom senso nessa tragédia", declarou à AFP Danièle Lamy, presidente da associação Entraide et Solidarité AF447, que aplaudiu a notícia.

"Finalmente a Procuradoria está tomando a medida das responsabilidades da Airbus e Air France", acrescentou.

Essas requisições vão na contramão da suspensão anunciada em agosto de 2019 pelos juízes de instrução encarregados da investigação. E vão além das formuladas no mesmo ano pela Promotoria de Paris, que pedia apenas um julgamento contra a companhia aérea.

A Corte de Apelações de Paris decidirá em 4 de março se envia ou não a companhia aérea e a fabricante aos tribunais, acrescentou a fonte.
Contatadas pela AFP, as duas empresas se recusaram a fazer comentários.

Famílias aguardam "explicações" 
"Nesta fase, não se trata de decidir se Airbus ou Air France são culpadas, mas das provas que justificam um julgamento. É a única coisa que as famílias pedem", declarou à AFP Alain Jakubowicz, um dos advogados da associação Entraide et Solidarité AF447, que reúne quase todos os familiares das vítimas francesas.

Na suspensão, em agosto de 2019, os magistrados que investigavam as causas da tragédia estimaram que o acidente aconteceu por "uma combinação de elementos que nunca ocorreram antes".

As investigações "não levaram à caracterização de uma falha da Airbus ou Air France em relação (...) aos erros dos pilotos (...) na origem do acidente", consideraram.

As partes civis protestaram contra uma decisão "absurda e corporativista".

Segundo os especialistas, o elemento que desencadeou o acidente foi o congelamento dos sensores externos, das sondas Pitot, e o fornecimento de dados errados sobre a velocidade, que desorientaram os pilotos durante a travessia noturna do Atlântico, onde a aeronave caiu.

A Promotoria de Paris considerava que a companhia havia cometido "negligência" ao não fornecer aos seus pilotos informação suficiente sobre como reagir em caso de anomalias nos sensores que controlam a velocidade dos aviões, mesmo com vários incidentes deste tipo nos meses anteriores à tragédia.

Desde o início da investigação, os especialistas travam uma batalha sobre as responsabilidades na série de incidentes que levaram ao acidente. As partes civis estimam que as duas companhias, Air France e Airbus, devem responder nos tribunais.

"As famílias têm direito de esperar explicações da Airbus e Air France", destacou Lamy.