O agravamento, com quase 3,5 milhões de novos contágios desde o início de abril, é atribuído em particular a uma "dupla mutação" do vírus
O agravamento, com quase 3,5 milhões de novos contágios desde o início de abril, é atribuído em particular a uma "dupla mutação" do vírusAFP
Por AFP
A Índia, segundo país mais afetado pela covid-19 depois dos Estados Unidos em número de contágios, enfrenta uma grave crise de saúde, com mais de 2 mil mortos e quase 300 mil novos casos nas últimas 24 horas, com falta de tratamentos e fornecimento de oxigênio.

O segundo país de maior população do planeta, com 1,3 bilhão de de habitantes, registra 15,6 milhões de casos e 182 mil mortes desde o início da pandemia. Com mais de 295 mil novos casos, os números da Índia são comparáveis aos registrados nos Estados Unidos em janeiro, anunciou o ministério da Saúde.

O primeiro-ministro, Narendra Modi, admitiu em um discurso na televisão que a Índia trava "mais uma vez uma grande batalha". "A situação estava sob controle há algumas semanas e a segunda onda chegou como um furacão", completou Modi.

O agravamento, com quase 3,5 milhões de novos contágios desde o início de abril, é atribuído em particular a uma "dupla mutação" do vírus.

Aglomerações
Apesar de suas cidades com grandes populações e de um sistema de saúde em ruínas, a Índia havia sofrido relativamente pouco em uma pandemia que já matou mais de três milhões de pessoas no mundo. Mas vários eventos com multidões facilitaram nas últimas semanas a circulação do coronavírus. Milhões de pessoas compareceram ao festival religioso hindu Kumbh Mela, a atos políticos, casamentos luxuosos e eventos esportivos.

A imprensa informa que a produção de medicamentos essenciais para o combate ao coronavírus desacelerou e, inclusive, foi suspenso em algumas fábricas. Também foram adiadas as licitações para as fábricas de produção de oxigênio.

As famílias desesperadas de pacientes são obrigadas a pagar preços exorbitantes no mercado paralelo por medicamentos e oxigênio. Os grupos de WhatsApp são dominados por pedidos de ajuda.

O primeiro-ministro regional de Nova Délhi, Arvind Kejriwal, que está confinado desde terça-feira porque sua esposa testou positivo, tuitou que alguns hospitais da megalópole tinham "apenas poucas horas de reserva de oxigênio".

O ministro da Saúde da cidade de 25 milhões de habitantes, Satyendar Jain, fez um apelo para que o governo federal a "restabeleça a cadeira de fornecimento de oxigênio para evitar una crise maior".

Os hospitais do estado de Maharashtra e de sua superpopulosa capital, Mumbai, também sofrem com a falta de material. Vinte e dois pacientes de covid-19 morreram nesta quarta-feira em um hospital de Nashik (200 km ao norte de Mumbai) após um corte de energia de meia hora, que paralisou os respiradores artificiais. As autoridades do estado ordenaram uma investigação.

"Muitos pacientes são enviados de volta para casa porque não temos oxigênio suficiente nem Remdesivir para tratá-los", explica Harish Krishnamashar, médico no Ramaiah Medical Collegebi Hospital, em Bangalore (sul).

A Índia aplicou mais de 130 milhões de doses de vacinas até o momento e a partir de 1º de maio todos os adultos poderão ser vacinados.

Os estados do país adotaram medidas diferentes de restrições: desde segunda-feira à noite Nova Délhi está em confinamento por uma semana, todas as lojas não essenciais estão fechadas no estado de Maharashtra, enquanto em Uttar Pradesh, que tem 200 milhões de habitantes, um confinamento entra em vigor durante o fim de semana.

O governo dos Estados Unidos desaconselha viagens à Índia, inclusive de pessoas vacinadas. O Reino Unido incluiu o país na "lista vermelha". Hong Kong e Nova Zelândia suspenderam os voos procedentes da Índia.