Presidente da Rússia, Vladimir PutinAFP

O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu nesta quinta-feira, 8, que seu país continuará a bombardear infraestruturas energéticas ucranianas, em resposta aos ataques atribuídos a Kiev na península anexada da Crimeia.

Putin minimizou as críticas ocidentais aos bombardeios que deixaram milhões de ucranianos sem luz e aquecimento, em pleno inverno (boreal).
"Sim, bombardeamos, mas quem começou?", declarou Putin em uma cerimônia de condecoração a soldados e outras personalidades no Kremlin. O presidente russo culpa a Ucrânia pela explosão que danificou a ponte da Crimeia no início de outubro.

Também acusou as autoridades da ex-república soviética de terem "explodido as linhas de energia da usina nuclear de Kursk", uma região russa na fronteira com a Ucrânia, e de "não fornecer água" ao reduto separatista pró-russo de Donetsk (leste).

Suas declarações coincidiram com uma troca de dois prisioneiros famosos entre a Rússia e os Estados Unidos no aeroporto de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.

Os beneficiários da troca foram o traficante de armas russo Viktor Bout, detido nos Estados Unidos há mais de dez anos, e a jogadora de basquete americana Brittney Griner, presa na Rússia desde o início deste ano por posse de maconha.

Mais cedo, nesta quinta, a Rússia declarou que existia um "risco" de Kiev realizar ataques na Crimeia, depois de vários atentados contra alvos russos distantes da frente de batalha.

Nos últimos dias, várias bases militares russas, duas delas localizadas a cerca de 500 quilômetros da Ucrânia (e a mesma distância de Moscou) foram atacadas por drones.
E nesta quinta, a frota russa destacada em Sebastopol, na Crimeia, abateu um drone, segundo as autoridades locais.

Os ataques, ao lado de uma série de retiradas do exército russo na Ucrânia, sugerem que, nove meses após o início da invasão, a Rússia tem dificuldades para consolidar suas posições e proteger sua retaguarda longe das linhas de frente.

Na Crimeia, "há um risco, já que o lado ucraniano persiste em sua linha de organizar ataques terroristas", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a repórteres. Mas o fato de um drone ter sido abatido "indica que as contramedidas indicadas estão sendo tomadas", acrescentou.

A frota russa do Mar Negro, posicionada no porto de Sebastopol, foi afetada no final de outubro pelo que as autoridades descreveram como um ataque "massivo" de drones que danificou pelo menos um navio.

Neste contexto, as autoridades instaladas por Moscou na Crimeia anunciaram a construção de fortificações e trincheiras.
Diante da possibilidade de que as linhas de frente não se movam durante o inverno (verão no Brasil), os ucranianos recorrem cada vez mais a drones para bombardear bases russas na retaguarda, enquanto os russos bombardeiam as infraestruturas energéticas ucranianas.

Nesta quinta-feira, os serviços de segurança russos (FSB) anunciaram a prisão de dois moradores de Sebastopol suspeitos de terem transmitido informações sobre alvos militares à Ucrânia.

Em comunicado, o FSB explicou que um dos suspeitos foi recrutado por Kiev em 2016 e que, desde o início da campanha militar na Ucrânia, forneceu "informações sobre a localização de instalações do ministério da Defesa da Rússia".

O exército ucraniano se aproximou da Crimeia graças a uma contraofensiva que lhe permitiu recuperar a cidade de Kherson, no sul do país, em meados de novembro.

Na região, onde o rio Dnieper serve de linha divisória, a situação é tensa, com bombardeios russos regulares na cidade de Kherson.

Oleksiy Kovbasiuk, um morador local, continua atravessando o rio, apesar dos riscos, para ajudar os habitantes presos na margem esquerda, ocupada pelos russos, a fugir. "Meu barco já recebeu dois tiros", contou à AFP.
Ao mesmo tempo, o Kremlin acusou nesta quinta-feira a revista americana Time de "russofobia", depois que o veículo nomeou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, personalidade do ano de 2022, e prestou homenagem ao "espírito ucraniano".

A Rússia sofreu vários reveses e foi forçada a mobilizar centenas de reservistas. Agora, o presidente Putin parece estar preparando a opinião pública para um conflito que deve se arrastar.

A intervenção na Ucrânia é "um longo processo", admitiu na quarta-feira, 7, garantindo que "o surgimento de novos territórios" que Moscou afirma ter anexado representa um "resultado significativo para a Rússia".

O líder também pareceu minimizar o risco de recorrer a uma arma nuclear. "Não enlouquecemos, sabemos o que são as armas nucleares", disse, acrescentando que esse tipo de arma só seria usado em caso de "retaliação".

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, recusou-se a responder diretamente a Putin, mas disse que "qualquer conversa sobre armas nucleares é absolutamente irresponsável".