Segundo especialista em saúde do Unicef, violência das gangues dificultará o acesso dos vacinadores a áreas inseguras no HaitiRICHARD PIERRIN / AFP
Haiti lança campanha de vacinação contra cólera
Violência no país pode dificultar imunização em algumas áreas
O Haiti lança neste domingo (18) uma campanha para vacinar mais de 10% de sua população contra o cólera, mas especialistas advertem que a iniciativa terá como obstáculos a ação de grupos criminosos presentes em grande parte do território.
O país caribenho, o mais pobre do continente americano, conta com 1,17 milhão de doses de vacinas, que são administradas por via oral, e cerca de mais 500.000 estão para chegar.
A campanha vai se concentrar nas crianças de um a cinco anos, a faixa etária que registra quase metade dos casos confirmados.
O cólera se propagou rapidamente pelo Haiti a partir de outubro. O Departamento de Epidemiologia, Laboratórios e Pesquisas da Nação registrou mais de 14.700 casos suspeitos, cerca de 1.270 casos confirmados e mais de 290 óbitos vinculado à doença.
"Muitos países estão registrando epidemias de cólera atualmente, o que provoca escassez de vacinas", disse à AFP Jean Bosco Hulute, especialista em saúde do Unicef, o fundo da ONU para a infância.
Ele destacou que uma única dose imuniza por seis meses, mas ressaltou que uma segunda dose amplia a proteção por dois anos completos.
A campanha de vacinação - programada para entre 18 e 22 de dezembro e, depois, nos dias 27 e 28 - se concentrará na capital Porto Príncipe e nos bairros e comunidades mais afetadas da região metropolitana, entre elas Cite Soleil, Delmas e Carrefour.
Mas Hulute assinalou que a violência das gangues dificultará o acesso dos vacinadores a áreas inseguras.
"Particularmente onde ocorreram sequestros e tiros, as equipes de vacinação e comunicação não estarão totalmente protegidas", indicou.
Em 2010, o Haiti sofreu uma primeira epidemia de cólera depois que efetivos nepaleses das forças de paz da ONU introduziram a doença. Na década seguinte, o cólera provocou a perda de mais de 10.000 vidas.
Tristan Rousset, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), assinalou que, apesar de a epidemia atual não ser tão explosiva como a de 2010, ela afeta todo o território e a situação política, econômica e de segurança do país "abre caminho para surtos".