Descumprimento do uso do hijab também foi usado como argumento para excluir mulheres das universidadesWakil Kohsar/AFP

O Talibã ordenou neste sábado, 24, que todas as ONGs nacionais e internacionais deixem de empregar mulheres. O regime do Afeganistão alegou que elas não estariam respeitando o código de vestimenta, mesmo argumento utilizado nesta semana para excluir as mulheres das universidades.
"Houve denúncias graves sobre o descumprimento do uso do hijab islâmico e outras regras e regulamentos relacionados ao trabalho feminino em organizações nacionais e internacionais", afirma uma notificação enviada a todas as organizações.
Um porta-voz do ministério da Economia confirmou que a determinação foi entregue. Duas ONGs internacionais procuradas pela 'AFP' confirmaram ter recebido. "Em caso de descumprimento da diretriz (...) a licença da organização que foi emitida será cancelada", diz o texto. 
"A partir de domingo, suspendemos todas as nossas atividades", declarou o funcionário de uma organização internacional que promove ações humanitárias em áreas remotas do país. "Em breve teremos uma reunião dos diretores de todas as ONGs para decidir como lidar com a questão", acrescentou.
Dezenas de entidades nacionais e internacionais trabalham em vários setores em áreas remotas do Afeganistão, com várias mulheres como funcionárias. O anúncio ocorre apenas quatro dias depois que o governo talibã decidiu proibir, por tempo indeterminado, as mulheres afegãs de frequentar universidades públicas e particulares no país.
O ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, disse em uma entrevista televisiva que tomou esta decisão porque as "estudantes que iam para a universidade (...) não respeitaram as instruções do hijab".
"O hijab é obrigatório no Islã", insistiu, referindo-se ao fato de que as mulheres no Afeganistão devem cobrir o rosto e o corpo inteiro. Segundo ele, as meninas que estudaram em uma província longe de casa "também não viajavam com um 'mahram', um acompanhante homem adulto".
Neste sábado, quase 400 estudantes de Kandahar, berço do movimento islamita fundamentalista, boicotaram uma prova em solidariedade às alunas e organizaram uma manifestação, dispersada pelas forças talibãs, que atiraram para o alto, contou um professor da Universidade Mirwais Neeka.
O novo ataque aos direitos das mulheres prejudica diversas meninas afegãs, que já haviam sido excluídas do Ensino Médio, e provoca muitas críticas da comunidade internacional. Apesar das promessas de maior flexibilidade, os talibãs retomaram a interpretação rigorosa do Islã, que marcou sua primeira passagem pelo poder, entre 1996 e 2001.
Desde o retorno, em agosto de 2021, multiplicaram-se as medidas contra as liberdades, principalmente das mulheres, que foram progressivamente excluídas da vida pública e dos centros educacionais.