Sacerdote renunciou ao papado em 2013Reprodoção: redes sociais

O Papa emérito Bento XVI morreu neste sábado, 31, aos 95 anos no Mosteiro Mater Ecclesiae, informou o Vaticano. Nesta semana, Joseph Aloisius Ratzinger estava desenvolvendo complicações de saúde relacionadas à idade avançada. 
"Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações", disse o Vaticano em comunicado à imprensa.
Desde quarta-feira, 28, o Papa Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente e pediu aos fiéis do mundo para que se reunissem em oração pela saúde do papa emérito.
"Uma oração especial pelo Papa emérito Bento XVI, que no silêncio está sustentando a Igreja. Recordemos, ele está muito doente, pedindo ao Senhor que o console e o sustente neste testemunho de amor à Igreja até o fim", disse o pontífice.
Apesar do discurso, Francisco não chegou a dar mais detalhes, mas as poucas palavras do papa sugeriram o delicado estado de saúde de Bento XVI. Logo depois da cerimônia, o pontífice visitou o antecessor.
Já na sexta-feira, 30, em um comunicado, sua condição era grave, mas estável, com atenção médica constante. Desde a renúncia, em 10 de fevereiro de 2013, o teólogo alemão vivia em um pequeno mosteiro no Vaticano.

O corpo do Papa emérito Bento XVI estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da próxima segunda-feira, 2.
Sacerdote renunciou ao papado em 2013 - Reprodução: redes sociais
Sacerdote renunciou ao papado em 2013Reprodução: redes sociais
Ascensão ao papado
Ratzinger nasceu em 16 de abril de 1927 na cidade de Marktl, mas passou boa parte da infância e adolescência em Traunstein, perto da fronteira com a Áustria. 
De família humilde e o mais novo de três irmãos, entrou para o seminário aos 12 anos e era fluente em diversas línguas, entre elas grego e latim. Mais tarde, fez doutorado em teologia na Universidade de Munique.
Entrou no seminário em 1939 e se tornou padre em 29 de junho de 1951. Em 1977, foi nomeado arcebispo de Munique e Freising e a sua ordenação episcopal foi oficializada no ano seguinte. Tornou-se o primeiro padre diocesano a assumir a arquidiocese da Baviera.
No mesmo ano foi nomeado cardeal e participou de conclaves que elegeram João Paulo I e João Paulo II. Este último o ordenou prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé – o antigo Tribunal da Inquisição, que ficou conhecido historicamente por perseguir e punir quem se desviava das condutas impostas pela Igreja.
Em 1982, Ratzinger renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de Munique. Em 1998, com a nomeação para vice-decano do Colégio Cardinalício, Ratzinger ficou ainda mais próximo do cargo de chefe de Estado do Vaticano. Com o nome aprovado pelo Papa João Paulo II, sua eleição para decano foi aceita em 2002.
Na tarde de 19 de abril de 2005, Ratzinger foi escolhido como papa para suceder o futuro santo João Paulo II, que exerceu a função por 26 anos, 5 meses e 17 dias.
Depois de dois dias e quatro rodadas de conclave, às 17h56 (horário local), a chaminé da Capela Sistina exalou a fumaça branca: havia sido escolhido o 265º sucessor de Pedro. Então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Ratzinger pediu para ser chamado de Bento XVI.
"Quis chamar-me Bento XVI para me relacionar idealmente com o venerado pontífice Bento XV (Cardeal Giacomo della Chiesa), que guiou a Igreja num período atormentado devido à Primeira Guerra Mundial", disse ele.
"Ele foi um profeta corajoso e autêntico de paz, e comprometeu-se com coragem infatigável primeiro para evitar o drama da guerra e depois para limitar as consequências nefastas", completou.
Bento XVI, no entanto, também viria a ser o primeiro papa a renunciar em 600 anos, após a Igreja Católica se tornar alvo de escândalos envolvendo acusações de corrupção e pedofilia.
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Sacerdote renunciou ao papado em 2013Reprodução: redes sociais
Riscos
Bento XVI foi alvo de tentativas de agressão durante o período de governança. Um deles ocorreu em 2007, quando um homem ultrapassou o bloqueio de segurança da Praça de São Pedro e tentou entrar no veículo que transportava o papa entre os fiéis. Ele foi contido imediatamente e o imobilizaram.
Uma mulher, Susanna Maiolo, também atentou contra Bento XVI duas vezes, em 2007 e 2008.
Na primeira ocasião, ela ultrapassou a segurança, mas foi detida antes. Já na segunda oportunidade, Maiolo chegou a puxar o papa, que caiu durante a Missa do Galo.

Ele não se feriu e continuou a celebração instantes após o atentado. Na confusão, o cardeal francês Roger Etchegaray sofreu uma queda e quebrou o fêmur, precisando passar por cirurgia. Maiolo foi encaminhada a um hospital e internada para tratamento psiquiátrico.
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Sacerdote renunciou ao papado em 2013Reprodução: redes sociais
Renúncia ao papado
Sua renúncia, anunciada em latim em 11 de fevereiro de 2013, foi uma decisão pessoal motivada pela saúde debilitada e não à pressão dos escândalos, afirmou o ex-pontífice em um livro de memórias publicado em 2016.
"No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor, seja do corpo, seja do ânimo, vigor que, nos últimos meses, em mim diminuiu, de modo tal a ter que reconhecer minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado", disse na época.
Embora nunca tenha alcançado a popularidade do carismático antecessor João Paulo II, Bento XVI é uma figura muito respeitada no mundo católico. Vários jornais italianos publicaram na primeira página o apelo do papa por orações. O 'Corriere della Serra' publicou uma foto do papa emérito sussurrando ao ouvido de Francisco.
Como líder da Igreja Católica, Bento XVI defendeu uma linha conservadora em temas como aborto, homossexualidade e eutanásia, além de ter sido um inimigo da Teologia da Libertação nascida na América Latina.
Algumas de suas declarações provocaram grande confusão, incluindo frases sobre o Islã, o uso de preservativo contra o HIV ou a excomunhão de quatro bispos fundamentalistas em 2009.
O pontificado de oito anos de Bento XVI (2005-2013) foi marcado por várias crises, incluindo as revelações sobre abusos sexuais de religiosos contra menores de idade em vários países. Bento XVI também viu seu nome envolvido no início de 2022 no escândalo de pedofilia na Igreja da Alemanha.
Ratzinger foi questionado em um relatório publicado em seu país por sua gestão das acusações de violência sexual quando era arcebispo de Munique. Ele saiu do silêncio para pedir perdão, mas afirmou que nunca protegeu nenhum pedófilo.
Seu pontificado também foi marcado pelo vazamento, em 2012, de documentos confidenciais (conhecidos como "Vatileaks"), planejado por seu mordomo. O escândalo evidenciou que a Cúria romana, a administração da Santa Sé, estava minada por uma rede de intrigas e pela falta de rigor financeiro.