Ofensiva coordenada pelas tropas ucranianas durante o Ano Novo na região de Donetsky preocupa o KremlinAFP

Moscou - A Rússia atualizou nesta quarta-feira, 4, para 89 o número de mortos no ataque ucraniano ocorrido durante o Ano Novo na cidade de Makeyevka, região anexada de Donetsk. A divulgação do balanço aumentou as críticas ao comando militar.
O estado-maior ucraniano assumiu autoria e o departamento de comunicações estratégicas do Exército apontou um número de vítimas russas bem maior, de cerca de 400 mortos e 300 feridos, números que não foram confirmados pelo estado-maior.
No momento em que Moscou enfrenta as repercussões do ataque, o presidente francês, Emmanuel Macron, prometeu hoje ao colega ucraniano, Volodymyr Zelensky, a entrega de tanques de fabricação francesa para ajudar o Exército ucraniano em sua contra-ofensiva.
Do lado russo, o balanço inicial, de 63 vítimas, foi revisado para cima após a descoberta de novos corpos entre os escombros da base militar atacada a 0h de 1º de janeiro, informou o general russo Serguei Sevriukov, em vídeo divulgado pelo Ministério da Defesa.
Segundo o general, o "principal motivo" do ataque foi "o uso de telefones celulares" por parte dos militares, o que revelou a sua localização. Sevriukov garantiu que "foram tomadas as medidas necessárias para evitar trágicos incidentes no futuro", e que "os responsáveis serão responsabilizados".
Este foi o maior número de mortos em um único ataque reconhecido por Moscou desde o início de sua ofensiva em fevereiro e ocorre após uma série de derrotas militares. Segundo a imprensa russa, as vítimas eram recrutas, ou seja, soldados não profissionais.
O anúncio do balanço revisado provocou uma nova onda de críticas ao comando militar russo, já visado por correspondentes e comentaristas russos na segunda e terça-feira por sua "incompetência". A chefe da rede RT, o braço de propaganda internacional do Kremlin, pediu a publicação dos nomes dos comandantes russos e "suas responsabilidades".
"É hora de entender que a impunidade não leva à harmonia social. A impunidade leva a novos crimes. E, consequentemente, à dissidência pública", publicou Margarita Simonian no Telegram. Vários russos pediam nas redes sociais uma investigação transparente dos fatos..
Segundo o Exército russo, o ataque foi realizado com sistemas de mísseis HIMARS, um armamento fornecido pelos Estados Unidos à Ucrânia que permite ataques atrás das linhas inimigas.
Os correspondentes de guerra russos acusaram os comandantes do país de não aprenderem com seus erros e de transferirem a culpa para os soldados. A conta Rybar no Telegram, que possui 1 milhão de seguidores, chamou de "criminosamente ingênuo" o Exército armazenar munição próximo aos dormitórios.
 Em um evento incomum na Rússia, onde os poderes públicos costumam manter o silêncio a respeito das baixas militares na Ucrânia, cerca de 200 pessoas se reuniram na terça-feira para homenagear os mortos em Samara (centro), de onde eram originários alguns dos soldados falecidos.
"É muito difícil, é assustador. A dor nos une", declarou Ekaterina Kolotovkina, que lidera um grupo de esposas de militares, na cerimônia realizada em uma igreja ortodoxa. O presidente russo, Vladimir Putin, não reagiu publicamente.
Na frente ucraniana, a hostilidade persistia. O general russo Sevriukov afirmou que suas forças destruíram vários lançadores Himars na cidade de Druzhkivka, em Donetsk, e reivindicou baixas entre as tropas de Kiev. A Ucrânia, por sua vez, reportou ali apenas uma morte e a destruição de uma pista de patinação no gelo.
O estado-maior ucraniano deu conta hoje de bombardeios em Kramatorsk (leste), Zaporizhia e Kherson (sul). A presidência anunciou cinco mortos e 13 feridos por fogo russo nas últimas 24 horas. Na península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, o governador da cidade de Sebastopol, Mikhail Razvojayev, informou que a frota russa repeliu um ataque de drones, dos quais dois foram abatidos.