País registrou 2,2 milhões de deslocados em dezembro, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários Tiziana Fabi/ AFP

O papa Francisco se reuniu neste sábado, 4, com deslocados internos do Sudão do Sul, depois de exortar os líderes a dar um "novo salto" aos esforços de paz no país africano devastado por lutas pelo poder.
Acompanhado por líderes das Igrejas da Inglaterra e da Escócia, representantes das outras duas confissões cristãs do Estado mais jovem do mundo, o pontífice destacou em discurso às autoridades de Juba, a capital, que o caminho "tortuoso" da paz não pode mais ser adiado.
O país de 12 milhões de habitantes, de maioria católica, conquistou em 2011 a independência do Sudão, de maioria muçulmana, após décadas de conflito. De 2013 a 2018, uma guerra civil entre apoiadores dos líderes Salva Kiir e Riek Machar deixou 380.000 mortos.
Apesar de um acordo de paz assinado em 2018, a violência persiste e o país registrou 2,2 milhões de deslocados em dezembro, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha).
Francisco chegou em uma cadeira de rodas e em meio a canções à Catedral de Santa Teresa. Cerca de 4.000 pessoas, segundo as autoridades, reuniram-se desde cedo para esperar o sumo pontífice no pátio da catedral, muitas delas agitando bandeiras nacionais, em clima de festa.
"Viemos aqui para receber suas bênçãos. É tudo uma questão de paz. O papa Francisco não pode nem andar, mas vem encorajar nossos líderes", disse John Makuei, 24 anos, que chegou antes do amanhecer para não perder esse "dia histórico".
"Estou muito feliz", disse Adongpiny Harriet, 36 anos, enxugando o suor da testa depois de dançar em frente à catedral. "Esta é a primeira vez que vejo o papa em meu país. Me sinto muito privilegiada!"
No final do dia, o papa fará seu terceiro e último discurso do dia durante uma oração ecumênica. Ao seu lado estarão o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, chefe espiritual da Igreja Anglicana, e Iain Greenshields, a personalidade mais importante da Igreja da Escócia.
Na sexta-feira, o santo padre exortou as autoridades deste país de 60 grupos étnicos, atormentado pela fome e pela miséria, a tomar medidas concretas. "As gerações futuras honrarão ou apagarão a memória dos vossos nomes com base naquilo que agora fizerdes", advertiu Francisco às autoridades.
"Basta de sangue derramado, basta de conflitos, basta de violências e recíprocas acusações sobre quem as comete, basta de deixar à míngua de paz este povo dela sedento. Basta de destruição, é a hora de construir", clamou Francisco.
A Igreja Católica preenche um vazio em áreas sem serviços governamentais e onde os trabalhadores humanitários costumam ser vítimas de ataques ou mortos violentamente. A ONG Human Rights Watch pediu aos líderes religiosos que pressionem dirigentes do Sudão do Sul a "resolverem a atual crise de direitos humanos do país e a impunidade generalizada".
"A visita do papa chega em um momento oportuno (...) Pedimos aos líderes e ao povo do Sudão do Sul que atendam a seu apelo por paz e estabilidade duradouras", tuitou Workneh Gebeyehu, secretário-executivo da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD).
Após seu encontro com o papa, o presidente Salva Kiir anunciou um decreto para o indulto de 71 presos, 36 deles condenados à morte, mas sem dar mais detalhes.
"Quando pousou em Juba, todos nos sentimos abençoados. Sua presença nos trará uma paz duradoura", disse Gladys Mananyu, 62 anos, depois de ver o papamóvel passar.
Em 2019, um ano após a assinatura do acordo de paz, Francisco recebeu os dois inimigos, Salva Kiir e Riek Mashar, no Vaticano e se ajoelhou para beijar-lhes os pés, suplicando que fizessem as pazes.
O Sudão do Sul é a segunda e última etapa desta terceira viagem de Francisco pela África subsaariana. A jornada começou na terça-feira na República Democrática do Congo (RDC), onde condenou as ações de grupos armados durante décadas, que deixaram centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados. A viagem deveria ter sido realizada em julho de 2022, mas foi adiada por problemas no joelho de Francisco.