Terremoto devastador que atingiu a Síria e a Turquia já matou mais de 17 mil pessoasAFP

Desde o terremoto que devastou a Síria e a Turquia na última segunda-feira, 6 — que já matou mais de 17 mil pessoas —, alguns países árabes retomaram contato com o presidente sírio, Bashar al-Assad, que tenta aproveitar a catástrofe para sair do isolamento diplomático, estimam analistas.
"A terrível tragédia que atingiu a Síria e a Turquia é uma oportunidade para Bashar al-Assad" de "avançar no processo de normalização de seu regime com o resto do mundo árabe", disse à AFP Nick Heras, analista do New Lines Institute. Mas "esta crise humanitária não vai exonerar seu regime aos olhos dos países ocidentais", acrescentou.
Poucas horas depois do terremoto de segunda, o presidente sírio recebeu uma ligação de seu homólogo egípcio, que ofereceu suas condolências. Este foi o primeiro contato entre os dois homens desde que Abdel Fatah al-Sissi chegou ao poder, em 2014.
A Liga Árabe excluiu a Síria no final de 2011, após o início da revolta popular contra o regime sírio que terminou em guerra civil.
Os Emirados Árabes Unidos, primeiro país do Golfo a restabelecer relações com o regime sírio, já prometeram ajuda de pelo menos US$ 50 milhões e enviaram ajuda humanitária.
O rei do Bahrein também falou com Assad na segunda-feira. Foi o primeiro contato oficial em mais de uma década entre os dois líderes.
O Líbano enviou uma delegação à capital síria, Damasco, na quarta-feira, 8, a primeira visita oficial de alto nível desde o início do conflito.
A ajuda humanitária poderia abrir caminho para "um canal de compromisso diplomático duradouro", estimou Heras. Aron Lund, do think tank Century International, foi mais cauteloso.
"São mensagens rotineiras que esses líderes enviariam a qualquer outro chefe de Estado após um desastre natural", considerou. Mas, segundo ele, o presidente sírio "vai tentar aproveitar essa oportunidade".
A Arábia Saudita, que rompeu relações com Damasco em 2012 e apoiou a oposição no início do conflito, prometeu ajuda, inclusive para áreas controladas pelo governo.
O Catar, acusado de financiar a oposição armada a Assad e ainda não normalizou as relações, também prometeu ajuda.
O terremoto também pode acelerar a aproximação que vem ocorrendo há alguns meses entre a Síria e a Turquia, cujo governo apoia os rebeldes no noroeste do país, segundo Lund.
"Ambos os países agora têm um problema comum, que vai além das fronteiras e das divergências políticas", afirmou.
Os esforços do governo sírio para quebrar seu isolamento não se limitam ao mundo árabe. Para Damasco, a guerra civil é resultado de uma trama promovida por ocidentais, que buscam derrubar o governo sírio, e a crise econômica é consequência das sanções internacionais impostas desde 2011.
Mas o embaixador sírio na Organização das Nações Unidas (ONU) disse na segunda que seu país está disposto a "trabalhar com aqueles que querem ajudar a Síria".
O Ministério das Relações Exteriores da Síria acrescentou que o governo está disposto a "facilitar" a chegada de ajuda de organizações internacionais.
A Síria também solicitou a ajuda da União Europeia. Os Estados Unidos disseram que estão trabalhando com ONGs locais na Síria para ajudar as vítimas. "Os fundos irão para o povo sírio, não para o governo", disse o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken.