Terremoto foi o mais violento da região em 80 anosAFP

Centenas de milhares de desabrigados continuam passando fome e frio na Turquia e Síria, onde as autoridades tentam enfrentar o grave desastre humanitário provocado pelo terremoto que deixou mais de 35 mil mortos. De acordo com o governo turco, quase 1,2 milhão de desabrigados estão alojados em campi universitários, mais de 200 mil barracas foram instaladas e 400 mil vítimas foram retiradas de áreas devastadas.
Mais de uma semana depois do terremoto de 7,8 graus de magnitude, as esperanças de encontrar sobreviventes nos escombros são mínimas e a atenção se concentra agora em fornecer alimentos e refúgio aos desabrigados. A catástrofe de 6 de fevereiro também tem consequências psicológicas entre a população.
Serkan Tatoglu conseguiu salvar os quatro filhos do violento terremoto que destruiu sua casa no sudeste da Turquia. A família está em segurança no momento, mas a filha de seis anos não para de perguntar: "Papai, nós vamos morrer?", conta à AFP o homem, de 41 anos.
Apenas na Turquia, pelo menos 574 crianças resgatadas dos escombros ficaram sem família, segundo o vice-presidente do país, Fuat Oktay. Apenas 76 foram reunidas com suas famílias novamente.
Uma psicóloga voluntária que trabalha em um centro de ajuda na província de Hatay (sul) disse que vários pais procuravam desesperadamente os filhos desaparecidos.
"Recebemos milhares de ligações sobre crianças desaparecidas", disse Hatice Goz. "Mas se a criança ainda não fala, a família não consegue encontrá-la".
Mais de sete milhões de crianças foram afetadas pelo terremoto nos dois países, afirmou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
"Na Turquia, o número total de crianças que vivem nas dez províncias atingidas pelo terremoto é de 4,6 milhões. Na Síria, há 2,5 milhões de crianças afetadas", disse James Elder, porta-voz do Unicef, em uma coletiva de imprensa em Genebra.
"O Unicef teme que milhares de crianças tenham falecido", afirmou Elder, antes de alertar que "mesmo sem números verificados, está claro que os números continuarão aumentando".
Na cidade turca devastada de Antakya (sul), as equipes de limpeza continuam retirando os escombros e instalando banheiros básicos. A rede de telefonia voltou a funcionar em algumas partes da cidade.
Policiais e soldados patrulhavam a cidade para evitar saques, depois que vários incidentes foram registrados no fim de semana.
"Enviem todo o possível porque aqui há milhões de pessoas e todas precisam de alimentos", afirmou o ministro turco do Interior, Suleyman Soylu, no domingo.
As cidades de Antakya e Kahramanmaras começaram a receber alimentos e outros suprimentos, segundo os correspondentes da AFP.
O custo econômico da catástrofe pode superar 84 bilhões de dólares, incluindo US$ 70 bilhões que corresponderiam às moradias, de acordo com a federação empresarial Turkonfed.
A situação também é grave na vizinha Síria, já em colapso por mais de uma década de guerra civil.
A ONU organizou uma reunião de emergência na segunda-feira sobre como aumentar a ajuda para as zonas sob controle rebelde.
O presidente sírio, Bashar al Assad, isolado e alvo de sanções, pediu ajuda internacional para reconstruir as infraestruturas do país, onde a ONU calcula que mais de cinco milhões de pessoas ficaram sem residência.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que Assad concordou em abrir duas novas passagens de fronteira a partir da Turquia e até o noroeste da Síria para permitir a entrada de ajuda.
Antes do terremoto de 6 de fevereiro, quase toda a ajuda humanitária crucial para as mais de quatro milhões de pessoas que vivem nas áreas do noroeste da Síria controladas pelos rebeldes chegava por apenas uma passagem de fronteira.
"A abertura desses pontos de cruzamento, além de facilitar o acesso humanitário, acelerar as aprovações de vistos e facilitar as viagens entre os centros, permitirá que entre mais ajuda, mais rápido", afirmou Guterres.
Mais de uma semana depois do terremoto e contra todas as expectativas continuam aparecendo histórias de pessoas encontradas vivas entre os escombros.
Na segunda-feira, 13, na Turquia, os irmãos Harun, de oito anos, e Eyuphan, de 15, foram resgatados depois de 181 horas soterrados, informou a agência de notícias Anadolu.
O balanço confirmado mais recente é de 35.331 mortos, 31.643 na Turquia e 3.688 na Síria. Este é o quinto terremoto com mais vítimas fatais no século XXI.
O número de mortes na Síria variou pouco em vários dias, mas certamente vai aumentar nas próximas semanas.
Na segunda, caminhões com kits de ajuda seguiram da Turquia para o noroeste da Síria. Funcionários da ONU, no entanto, afirmaram que mais ajuda é necessária para as milhões de pessoas que tiveram as casas destruídas.
De acordo com o ministério dos Transportes da Síria, 62 aviões de ajuda já pousaram no país e outros são aguardados nos próximos dias, principalmente da Arábia Saudita.
Nesta terça, um avião da Arábia Saudita com ajuda para as vítimas do terremoto pousou em Aleppo, norte da Síria.
"É o primeiro avião da Arábia Saudita a pousar na Síria em mais de 10 anos", afirmou à AFP um funcionário do ministério dos Transportes.