Manifestações acontecem no Irã desde o dia 16 de setembro, desencadeadas pela morte da jovem curda Mahsa AminiAtta Kenare / AFP
Meta revela que Instagram é usado por dezenas de milhões no Irã apesar da repressão
Rede social virou ferramenta para divulgar protestos contra o governo e informar mídia internacional
A Meta, empresa controladora do Instagram, revelou nesta quinta-feira (23) que dezenas de milhões de usuários têm acesso à rede social no Irã, apesar das restrições à Internet impostas pelo governo em represália à onda de protestos.
A indignação social agita o país desde 16 de setembro, quando a curdo-iraniana Mahsa Amini, de 22 anos, morreu sob custódia da polícia da moralidade por uma suposta violação do código de vestimenta para mulheres.
"O Instagram tem sido amplamente utilizado pelos iranianos para divulgar os protestos e sua repressão brutal", disse o presidente de Assuntos Globais da Meta, Nick Clegg, durante uma coletiva de imprensa.
"As pessoas também compartilharam imagens dos protestos no Instagram com meios de comunicação internacionais, dos quais muitos não conseguem informar diretamente do Irã", acrescentou.
As manifestações levaram as autoridades a restringirem a liberdade de expressão e de reunião e a limitarem a Internet e aplicativos como o Instagram, mas seu uso continuou.
"Apesar das tentativas de bloquear o Instagram, vemos dezenas de milhões de pessoas ainda encontraram maneiras de acessá-lo", afirmou Clegg.
A Meta disse que as táticas de acesso incluem o uso de programas de rede virtual privada (VPN), que criptografa e oculta a atividade on-line.
Também destacou que as pessoas no Irã usam o Instagram Lite, uma versão mais leve do aplicativo (pesa 2 megabytes em vez de 30). Isso permite uma conexão mais estável, mesmo quando a banda larga é reduzida.
Desde a morte de Amini, hashtags relacionadas com os protestos foram usadas mais de 160 milhões de vezes no Instagram, segundo a Meta.
A gigante das redes sociais disse que criou uma equipe de especialistas dedicada a esta crise, para melhor proteger ativistas e jornalistas em risco.
"Quando sabemos que os defensores dos direitos humanos foram presos, tomamos medidas para evitar que (as autoridades policiais) obtenham acesso não autorizado às suas contas", explicou Clegg.
Em janeiro, a Meta lançou uma ferramenta para contornar o bloqueio do WhatsApp.
Instagram e WhatsApp "estiveram na origem da insegurança no país durante os recentes distúrbios", disse o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, na televisão no início de fevereiro para justificar a manutenção do bloqueio.
O acesso à Internet era restrito mesmo antes: sem um programa do tipo VPN, a maioria dos sites hospedados fora do país fica inacessível. As novas restrições dificultaram o acesso às VPNs.
Desde setembro, milhares de pessoas, incluindo jornalistas, advogados, atores e ativistas, foram detidas, acusadas de envolvimento nos protestos. Entre os presos, quatro foram enforcados e, segundo as autoridades, centenas de pessoas, entre manifestantes e membros das forças de segurança, foram mortas.