Desde que assumiu as rédeas do Twitter, Musk tem dado espaço a teorias da conspiração e fake news em sua conta pessoalAFP
Desde que assumiu as rédeas da rede social, em outubro de 2022, Musk tem dado espaço a muitas teorias da conspiração em sua conta pessoal, sobre a guerra na Ucrânia, a agressão ao marido de Nancy Pelosi, democrata que presidiu a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, e outros temas polêmicos.
Na semana passada, ele respondeu a um usuário que se perguntava sobre a "misteriosa" ausência de casos de gripe durante a pandemia de covid-19. "Boa pergunta", comentou o diretor do Twitter, que já interagiu várias vezes com usuários antivacina e expressou dúvidas sobre a gravidade da crise sanitária.
Esta resposta é uma das pelo menos 40 trocas de mensagens de Musk com "KanekoaTheGreat", uma conta que compartilha regularmente as teorias da conspiração do QAnon com seus mais de 370 mil inscritos, cujo autor diz ter sido "ressuscitado por Elon".
Graças a dados do site PolitiTweet, dedicado a rastrear os tuítes de personalidades públicas até que o Twitter cortou seu acesso, a 'AFP' pôde analisar milhares de mensagens publicadas por Musk entre o fim de outubro e março passado.
Nestes meses, o bilionário compartilhou um artigo falso com a logo da 'CNN' e assegurou, erroneamente, que a polícia tinha escoltado um dos invasores do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Também deu espaço a uma publicação que culpava pessoas LGBTQ por ataques a tiros em massa e apoiou uma recontagem falsa de baixas na Ucrânia.
"Estamos ficando sem 'conspirações' que acabaram se revelando verdade!", disse Musk em março, em resposta a um tuíte que citava a covid-19 e a segurança das vacinas como algumas das "maiores mentiras da mídia".
Dias depois, tuitou que "a melhor forma de combater a desinformação é responder com informação precisa".
O fio de Musk
"Musk tem quase 135 milhões de seguidores e obrigou os engenheiros a aumentarem a visibilidade de seus tuítes, motivo pelo qual deveríamos nos preocupar quando divulga informação incorreta", disse à AFP Brendan Nyhan, professor e cientista político da Universidade de Dartmouth.
"Mas, sobretudo, me preocupa o que estes tuítes revelam sobre o pensamento do responsável pelas decisões de uma grande rede social", acrescentou.
Pesquisadores vincularam as mudanças recentes nas políticas do Twitter, como a certificação paga e o restabelecimento de algumas contas anteriormente proibidas na plataforma, ao aumento da desinformação na rede.
O site de análises de mídia 'NewsGuard' descobriu que as contas que pagam por sua certificação estão inundando a plataforma de afirmações falsas.
Musk dirige a atenção dos usuários para algumas destas contas. "Tenho o selo de aprovação de Elon Musk", disse "KanekoaTheGreat" no Telegram, depois de uma destas respostas.
Um relatório publicado em janeiro pelo Instituto para o Diálogo Estratégico, um painel de especialistas sediado em Londres, detalha os intercâmbios crescentes entre Musk e as contas que compartilham conteúdo de extrema direita desde que ele adquiriu o Twitter, inclusive contas que haviam difundido informação incorreta sobre as eleições nos Estados Unidos.
Entre as contas que o diretor do Twitter mais repercute está a de Ian Miles Cheong, um blogueiro de extrema direita, que recebeu ao menos 60 respostas de Musk, segundo a análise da AFP. Em uma ocasião, Musk amplificou o alcance de um tuíte, no qual culpava o presidente americano, Joe Biden, por um programa de imigração que começou com seu antecessor, Donald Trump.
Segundo Nyhan, contas assim "provavelmente" aumentam seu "alcance e prominência", graças à visibilidade que Musk dá a elas.
O Twitter respondeu os pedidos de comentários da AFP com emoji em forma de cocô – uma resposta automática lançada em março por Musk.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.