Em meio aos violentos conflitos, a Força Aérea Britânica auxilia a retirada de sudaneses e cidadãos de outros países do SudãoAFP
O exército anunciou na quarta-feira, 26, que concordou com um diálogo em Juba, a capital do Sudão do Sul, com o objetivo de prolongar uma trégua de três dias que termina na sexta-feira, 28, com milícias das Forças de Apoio Rápido (FAR).
Apesar da promessa de trégua, que entrou em vigor na terça-feira, 25, aviões militares cruzam o céu dos subúrbios ao norte da capital e os combates com metralhadores e armamento pesado continuam, informaram testemunhas à 'AFP'.
O conflito que envolve as tropas do general Abdel Fatah al Burhan - que preside o país - e os paramilitares liderados pelo general Mohamed Hamdan Daglo começou em 15 de abril e, desde então, fracassaram várias tentativas de interrupção dos combates.
O general Burhan afirmou que aceita discutir uma prorrogação da trégua, que foi amplamente ignorada. Os paramilitares não comentaram a iniciativa do bloco regional dos países do leste da África. De acordo com o ministério da Saúde do Sudão, ao menos 512 pessoas morreram e 4.193 ficaram feridas desde o início do conflito, mas o balanço real provavelmente é mais elevado.
Além da capital, a violência arrasa outras regiões do país, em particular na zona oeste da região de Darfur. Na capital desta região, El Geneina, foram registrados saques, assassinatos e incêndios em casas, segundo a ONU. A área foi cenário de uma guerra extremamente violenta na década de 2000.
A Organização das Nações Unidas, que teve que interromper suas operações após a morte de cinco trabalhadores humanitários, advertiu que não pode mais prestar auxílio em uma área onde "50 mil crianças sofrem de desnutrição aguda".
Os combates provocaram uma fuga em massa e agravaram a crise em uma das nações mais pobres do mundo, que tem mais 45 milhões de habitantes.
Mais de 14 mil sudaneses e 2 mil cidadãos de outros países chegaram ao Egito desde o início dos combates, informou o Ministério das Relações Exteriores egípcio nesta quinta-feira. Achraf, um sudanês de 50 anos que fugiu de Cartum para o vizinho Egito, pediu aos generais que "acabem com a guerra".
"Os sudaneses sofrem e não merecem isto. Esta é a guerra de vocês, não do povo sudanês", afirmou.
As pessoas que permanecem no país enfrentam escassez de alimentos, falta de água e de energia elétrica, além de cortes nas linhas de telefonia e de internet. Os países vizinhos receberam dezenas de milhares de pessoas, em particular Egito e Etiópia, segundo a ONU, que teme um êxodo em massa.
Hospitais fora de operação
Em meio ao cenário de caos, centenas de detentos fugiram de três prisões, incluindo a penitenciária de segurança máxima de Kober, onde estavam presos ex-funcionários de alto escalão do regime deposto de Omar al Bashir.
Entre os foragidos está um integrante do antigo governo que é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), acusado de crimes contra a humanidade.
Al Bashir, 79 anos, também estava na prisão, mas o exército anunciou na quarta-feira que ele foi transferido para um hospital militar antes do início dos combates "devido a sua condição de saúde". A data da transferência não foi divulgada.
Al Bashir foi derrubado pelo exército em abril de 2019, após uma grande pressão popular. Os dois generais que protagonizam o atual conflito acabaram com as expectativas de uma transição para a democracia quando se aliaram, em 2021, para derrubar os civis do poder.
Meses depois, Burhan e Daglo entraram em conflito por suas divergências sobre a integração dos paramilitares o exército oficial.
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