Manifestantes que recordavam os 34 anos do massacre da Praça da Paz Celestial de Pequim foram detidos por forças de segurançaPETER PARKS / AFP
A polícia mobilizou um grande contingente durante o fim de semana nos arredores do Parque Victoria, no bairro comercial de Causeway Bay, onde durante muitos anos milhares de pessoas se reuniam para recordar, com uma vigília, as vítimas de 4 de junho de 1989.
Chan Po-ying, líder da Liga dos Social-Democratas, que estava com uma vela e flores, foi detida pela força de segurança. O partido informou que ela foi liberada duas horas depois.
Outras personalidades detidas foram Alexandra Wong, uma ativista de 67 anos conhecida como "Avó Wong", que exibia um ramo de flores, e a jornalista Mak Yin-ting, que já presidiu a Associação de Jornalistas de Hong Kong.
Outra mulher foi detida depois de gritar: "Levantem as velas" e "Chorem pelo 4 de junho", uma referência à data da repressão violenta de Pequim às manifestações que pediam democracia na China.
A polícia de Hong Kong indicou ter detido 23 pessoas, entre 20 e 74 anos, por terem "perturbado a paz".
No sábado, a polícia anunciou a detenção de quatro pessoas por "comportamento desordeiro no espaço público" e outras quatros por "perturbação da ordem pública".
Calar a dissidência
Hong Kong, que o Reino Unido devolveu à China em 1997, foi durante muito tempo a única cidade chinesa a organizar uma vigília com velas em memória das vítimas.
Em 2020, no entanto, uma lei de segurança nacional imposta por Pequim à cidade - que havia sido cenário de grandes manifestações pró-democracia nos meses anteriores - proibiu as cerimônias.
Este ano, o Parque Victoria está ocupado por uma feira comercial dedicada a produtos procedentes do sul da China e organizada por grupos pró-Pequim para celebrar o 26º aniversário da devolução de Hong Kong.
"Hong Kong é uma cidade diferente hoje", afirmou uma mulher de 53 anos. Ao ser questionada sobre a vigília, ela respondeu que era um evento do passado.
Ao cair da noite, era possível ver velas acesas por trás das janelas do consulado dos Estados Unidos em Hong Kong.
Apagar da memória
Os livros de História não mencionam o evento e qualquer debate sobre o tema na internet é censurado de maneira sistemática.
A embaixada britânica em Pequim publicou a primeira página de 4 de junho de 1989 do jornal chinês 'People's Daily', que destacava uma reportagem sobre como os hospitais estavam lotados de vítimas.
"Em menos de 20 minutos, os censores retiraram nossa publicação do Weibo" (o equivalente chinês do Twitter), tuitou a embaixada neste domingo.
As autoridades também mobilizaram policiais ao redor da ponte Sitong, em Pequim, onde um manifestante exibiu uma faixa com a palavra "liberdade" em outubro do ano passado, um protesto raro na cidade.
Os ativistas pró-democracia de maior destaque de Hong Kong fugiram para o exterior ou foram detidos desde a aprovação da lei de segurança em 2020.
O chefe do Executivo de Hong Kong, John Lee, alertou que as pessoas devem agir de acordo com a lei ou "enfrentar as consequências".
Em Taiwan, país de governo autônomo que a China reivindica como parte de seu território, quase 500 pessoas se reuniram durante a noite na Praça da Liberdade, em Taipé, expressaram apoio a Hong Kong e gritaram: "Vamos lutar pela liberdade".
Durante o evento, o grupo organizou velas de maneira a formar o número 8964, símbolo do dia 4 de junho de 1989, proibido na China continental.
"Devemos valorizar a liberdade e a democracia que temos em Taiwan", disse Perry Wu, de 31 anos.
"A história e a recordação não serão apagadas com facilidade", declarou Sky Fung, secretário-geral da ONG 'Hong Kong Outlanders', que tem sede em Taiwan.
Várias cidades do mundo devem organizar vigílias em homenagem às vítimas da Praça da Paz Celestial, de Tóquio a Nova York, passando por Londres.
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