Mercado de El Geneina, a capital de Darfur Ocidental, em 20 de abril de 2023, e a mesma área em 17 de maio de 2023AFP PHOTO / SATELLITE IMAGE ©2023 MAXAR TECHNOLOGIES

A comunidade internacional prometeu, nesta segunda-feira (19), 1,5 bilhão de dólares (R$ 7,16 bilhões na cotação atual) em ajuda para responder à crise humanitária no Sudão, envolto em uma espiral de "morte e destruição" desde o início do conflito, há dois meses.

"Hoje, os doadores anunciaram cerca de 1,5 bilhão de dólares para a resposta humanitária no Sudão e na região", disse o secretário-geral adjunto de Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, após uma conferência de doadores em Genebra.

O encontro coincidiu com um cessar-fogo de três dias no país africano, onde os combates opõem desde 15 de abril o comandante do exército, general Fatah al Burhan, aos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), comandadas pelo general Mohamed Hamdan Daglo.

Embora Griffiths tenha agradecido a generosidade dos doadores, o valor prometido representa apenas metade do total reivindicado pelas agências humanitárias para este ano.

Até agora, a ONU só havia recebido 17% dos US$ 3 bilhões (R$ 14,3 bilhões) requeridos.

A organização internacional ressalta que 25 milhões de pessoas - metade da população - dependem de ajuda humanitária para sobreviver.

"Esta crise exigirá um apoio financeiro sustentado e espero que todos possamos manter o Sudão no topo da nossa agenda", exortou Griffiths.

'Morte e destruição'
Apesar da trégua, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que o Sudão está mergulhando em uma espiral de "morte e destruição" a uma velocidade "sem precedentes".

"Sem um apoio internacional forte, o Sudão poderia se tornar rapidamente em um local de anarquia, causador de insegurança em toda a região", alertou.

A guerra já matou mais de 2.000 pessoas, segundo a ONG ACLED, e deixou mais de 2,5 milhões de deslocados e refugiados, segundo a ONU.

A Alemanha, coanfitriã da conferência juntamente com União Europeia, Catar, Egito e Arábia Saudita, prometeu doar 200 milhões de euros (1,04 bilhão de reais na cotação atual) até 2024.

O Catar prometeu US$ 50 milhões (aproximadamente R$ 239 milhões) e a UE, 190 milhões de euros (cerca de 992 milhões de reais) em ajuda humanitária e para o desenvolvimento.

Cessar-fogo
A trégua atual, anunciada pelos mediadores Arábia Saudita e Estados Unidos, entrou em vigor às 6h locais (01h de Brasília) de domingo.

As duas partes se comprometeram a respeitar o cessar-fogo, apesar de as tréguas anteriores terem sido violadas sistematicamente.

Várias testemunhas consultadas nesta segunda-feira pela AFP em Cartum garantiram que não foi ouvido nenhum confronto na capital sudanesa, de cinco milhões de habitantes.

Mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) denunciou que a trégua foi violada quando "uma transferência de soldados" do exército, nas mãos dos paramilitares, fracassou por causa de "disparos".

O objetivo do cessar-fogo é permitir a livre circulação e a entrega de ajuda no país, um dos mais pobres do mundo.

'Desastre humanitário'
A situação é especialmente preocupante na região de Darfur, no oeste do país, na fronteira com o Chade. Os confrontos nesta área opõem os militares e os paramilitares, mas também civis armados.

Nos últimos quatro dias, "15.000 sudaneses, entre eles quase 900 feridos" fugiram da violência contra civis em Geneina, no oeste de Darfur, rumo a Adré, no vizinho Chade, segundo a organização Médicos sem Fronteiras (MSF). Mais de 150 mil pessoas fugiram para o Chade desde o início dos combates, segundo a ONU.

Durante uma reunião do Conselho de Direitos Humanos sobre o Sudão, realizada nesta segunda, o embaixador britânico, Simon Manley, se disse "especialmente horrorizado com os informes de aumento da violência étnica, a violência sexual e de gênero em algumas partes de Darfur".

Darfur, que já foi devastada por uma guerra civil no começo dos anos 2000, caminha para um novo "desastre humanitário", alertou na quinta-feira o secretário-geral adjunto para assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths.