Putin sonha em reconstruir a "Grande Rússia"AFP

A rebelião do Grupo Wagner confrontou Vladimir Putin com um de seus maiores desafios em mais de duas décadas no poder, durante as quais ele silenciou a oposição e tentou reconstituir uma "Grande Rússia", enfraquecida pelo colapso da União Soviética. 
Em agosto de 1999, Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia após o fim da União Soviética, nomeou como premier o praticamente desconhecido Vladimir Putin. Este ex-chefe do FSB (ex-KGB) assumiu rapidamente uma imagem de homem forte, em um país traumatizado por uma série de atentados atribuídos a separatistas chechenos, que deixaram quase 300 mortos.
Enfraquecido por problemas de saúde e pelo consumo de álcool, Yeltsin renunciou em 31 de dezembro e Putin o sucedeu nas eleições presidenciais de março de 2000. De 2000 a 2009, o conflito contra os rebeldes chechenos e islamitas, marcado pelas atrocidades e pelos bombardeios de Grozny, deixou dezenas de milhares de vítimas.
Vários sequestros de autoria reivindicada pela rebelião terminaram em operações letais das forças russas, como no Teatro de Moscou (850 reféns e 130 mortos) e em uma escola de Beslan, na Ossétia do Norte (mais de 1.000 reféns e 330 mortos, dos quais 186 crianças). 
Em seus dois primeiros mandatos, Putin aumentou sua influência no Parlamento, colocou os governadores regionais sob o controle de Moscou, reforçou o FSB e dominou os veículos de comunicação e os oligarcas. Mikhail Khodorkovsky, dono do grupo petroleiro Yukos, resistiu e foi preso.
Em 2006, a morte da jornalista crítica do poder Anna Politkovskaya e o envenenamento do ex-espião russo Alexander Litvinenko provocaram uma onda de indignação mundial.
A Constituição russa proíbe um terceiro mandato consecutivo e Putin designa como sucessor seu subordinado Dmitri Medvedev, eleito em 2 de março de 2008 sem rivais reais. Putin se torna primeiro-ministro e mantém sua influência. 
Em agosto de 2008, o Exército russo intervém na Geórgia, ex-república soviética candidata à Otan, depois que o governo tentou retomar o controle de um território separatista pró-Rússia. Moscou esmaga o Exército georgiano.  
No fim de 2011, uma onda de protestos explode após acusações da oposição de fraude nas eleições legislativas. Dezenas de milhares de pessoas se manifestam semanalmente em Moscou. Reeleito presidente em março de 2012, Putin reprime brutalmente as passeatas. 
Putin quer reconstituir a "Grande Rússia" anexando, em 2014, a península ucraniana da Crimeia, com o pretexto de combater uma revolução em Kiev impulsionada, segundo ele, pelas potências ocidentais. A operação desencadeia uma guerra no leste da Ucrânia com os separatistas pró-Rússia. 
A partir de 2015, o Exército russo passa a apoiar o presidente sírio, Bashar al-Assad, cujas tropas enfrentam forças rebeldes e jihadistas. A intervenção salva o regime e a Rússia ganha peso no Oriente Médio, principalmente depois de bombardear em massa cidades como Aleppo. 
Desde 2020, o Kremlin empreende uma política de repressão sistemática. Sua principal vítima é Alexei Navalny. Após sobreviver a um envenenamento que atribui ao Kremlin, este inimigo jurado de Putin cumpre uma pena de nove anos e pode ser condenado a três décadas de prisão em um julgamento em curso atualmente. ONGs, redes sociais, sites e veículos de comunicação críticos são bloqueados na Rússia.
 Em 24 de fevereiro de 2022, Putin envia seu Exército à Ucrânia, argumentando que deseja salvar a minoria russa naquele país e "desnazificar" a ex-república soviética, que vê como muito próxima da Otan. 
Em discurso transmitido pela TV em 24 de junho de 2023, Putin denuncia "uma ameaça mortal" e um risco "de guerra civil", diante de uma rebelião liderada pelo líder da milícia Wagner, Yevgeny Prigozhin, contra o comando militar russo, que acusa de ter bombardeado suas tropas. Os combatentes do grupo Wagner iniciam uma marcha para Moscou, mas, à noite, Prigozhin anuncia o seu recuo, para evitar um derramamento "de sangue russo".