Funeral de Nahel, de 17 anos, foi realizado em NanterreCLEMENT MAHOUDEAU / AFP
As autoridades mobilizaram na quarta-feira 9.000 agentes antidistúrbios, aumentaram o contingente para 40.000 na quinta-feira e para 45.000 no dia seguinte, e neste sábado anunciaram que manteriam o mesmo nível em previsão de outra noite agitada.
O funeral de Nahel, de 17 anos, foi realizado em Nanterre, município ao noroeste de Paris onde ele residia, sem presença de câmeras a pedido da família.
Centenas de pessoas se reuniram em frente à funerária em uma mesquita e depois seguiram para o cemitério de Mont-Valérien para o enterro, relataram jornalistas da AFP.
"Foi uma cerimônia muito tranquila, recolhida e sem incidentes", disse uma testemunha à AFP, na presença da mãe e da avó do jovem.
Os distúrbios na noite de sexta-feira e madrugada deste sábado foram de menor intensidade do que nos dias anteriores, embora tenham ocorrido de maneira significativa em Marselha e Lyon, segunda e terceira maiores cidades do país, respectivamente.
O Ministério do Interior informou 1.300 prisões e 79 policiais e gendarmes feridos, com cerca de cinquenta ataques a delegacias e uma dezena a quartéis da gendarmeria, uma força militar com funções de manutenção da ordem, principalmente em áreas rurais.
Os incidentes naquela noite resultaram em 1.350 veículos incendiados ou danificados e 1.234 edifícios incendiados, de acordo com o balanço oficial.
Os distúrbios afetaram a vida social da França, com receios de que prejudiquem a temporada turística deste ano de 2023 e a apenas um ano dos Jogos Olímpicos de Paris-2024.
Reino Unido, Alemanha, Noruega e outros países alertaram seus cidadãos na França para evitarem áreas de tumulto e tomarem precauções extras.
A marca de moda Céline cancelou seu desfile de moda masculina programado para domingo. Seu diretor criativo, Hedi Slimane, citou "a evolução incerta desses graves distúrbios" e a "inadequação" de realizar um desfile de moda em um momento em que a França e sua capital estão de luto e desoladas.
O governo organizou uma nova reunião de crise e a primeira-ministra, Elisabeth Borne, pediu aos ministros que permanecessem em Paris durante o fim de semana.
O presidente Macron adiou uma visita de dois dias à Alemanha, prevista para começar no domingo.
Macron "informou sobre a situação em seu país" ao seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier, e solicitou o "adiamento de sua visita de Estado à Alemanha", informou um comunicado da Presidência alemã.
'Racismo'
O incidente provocou um debate sobre o racismo policial em um país onde 13 pessoas morreram em circunstâncias semelhantes em 2022.
A versão inicial da polícia indicava que o jovem, que já havia se envolvido com agentes em casos semelhantes, havia tentado atropelar os policiais com seu veículo. No entanto, um vídeo amador amplamente divulgado mostrou que ele foi executado à queima-roupa.
A ONU pediu na sexta-feira às autoridades francesas que lidem seriamente com os "profundos" problemas de "racismo e discriminação racial" em suas forças de segurança.
O Ministério das Relações Exteriores da França respondeu que essas considerações eram "totalmente infundadas".
Mounia, mãe da vítima, disse à emissora France 5 que não culpa a polícia como um todo, apenas o policial que matou seu filho.
A justiça decretou a prisão preventiva por homicídio doloso do policial de 38 anos responsável pelo disparo, que, segundo seu advogado, pediu "desculpas à família" de Nahel.
'A violência deve parar'
Marselha (sul), Lyon e Grenoble (centro-leste) foram palco de muitos saques na última noite, realizados por grupos frequentemente mascarados.
Na manhã deste sábado, os comerciantes avaliavam os danos, indignados. "Na segunda-feira, coloco tudo à venda, já chega", declarou a proprietária de uma loja em uma rua de pedestres cheia de destroços no centro de Lyon.
"Eles vieram especialmente para quebrar coisas, roubar", afirmou Yousef Bettahar, comerciante do shopping center Merlan em Marselha.
A seleção francesa de futebol, liderada por Kylian Mbappé, afirmou em comunicado que "chegou a hora de a violência parar" e dar lugar a "formas pacíficas e construtivas de se expressar".
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