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Milhares de israelenses voltaram a se reunir nesta terça-feira, 18, bloqueando estações de trem e estradas para denunciar o projeto de reforma judicial do governo de direita de Benjamin Netanyahu, que consideram uma ameaça à democracia.
Desde o anúncio da proposta em janeiro, dezenas de milhares de pessoas têm se manifestado todas as semanas em um dos maiores movimentos de protesto da história de Israel.
Sob um calor avassalador, milhares de pessoas protestaram nesta terça, entoando "Democracia, democracia!" e agitando bandeiras israelenses, especialmente em Haifa (norte), Tel Aviv, Jerusalém, Petah Tikva e Rehovot (centro), segundo a imprensa local e jornalistas da AFP.
"Estamos vivendo dias trágicos (...) diante de um governo (...) que se apressa em destruir a democracia. Somente nós, cidadãos, podemos impedir o trem da ditadura", declararam os organizadores da manifestação em um comunicado.
Em Tel Aviv, ativistas de um grupo de veteranos do exército formaram uma corrente humana para bloquear a entrada no quartel-general do exército.
"Estou disposto a lutar", disse à AFP Ron Sherf, de 51 anos, veterano de uma unidade de elite. "O governo quer poder ilimitado para implementar uma política que não é liberal, uma política de supremacia judaica", denunciou.
Os manifestantes também bloquearam diversas vias públicas e marcharam em uma rodovia ao norte de Tel Aviv. Outros entraram no prédio da bolsa da cidade.
Em meio a gritos de "Israel não é uma ditadura!", centenas de pessoas invadiram várias estações de trem, sobretudo em Tel Aviv e Haifa, apesar do dispositivo policial para contê-las. A polícia relatou 19 detenções por "perturbação da ordem pública".
O dia de mobilização acontece após a votação no Parlamento, na semana passada, em primeira leitura, de uma medida da reforma destinada a eliminar a possibilidade de o Poder Judiciário decidir sobre a "razoabilidade" das decisões do governo.
Enquanto isso, nesta terça, a comissão parlamentar de leis continua seus debates para submeter a reforma nos próximos dias à votação final do Parlamento.
"Desde que a reforma foi lançada, vemos o impacto em nossa economia", afirmou Inbal Orpaz, de 36 anos, um funcionário do setor de tecnologia que se manifestava em Tel Aviv.
O Fundo Monetário Internacional advertiu em junho sobre a "incerteza" representada pelo projeto de reforma, que poderia prejudicar o crescimento.
"Com atos não violentos de desobediência civil, continuaremos protestando nas ruas até o completo cancelamento da reforma", declarou Josh Drill, um dos porta-vozes do movimento.
A reforma defendida pelo governo, uma das mais conservadoras na história de Israel, tem como objetivo aumentar o poder dos políticos sobre os magistrados.
O governo defende que ela é necessária para garantir um melhor equilíbrio de poderes, mas seus críticos a veem como uma ameaça à democracia e às suas salvaguardas institucionais.
Outras medidas também causam o descontentamento dos manifestantes, como a que modifica o processo de nomeação de juízes, que já foi aprovada pelos deputados em primeira leitura.
Outra cláusula, chamada "derrogatória", que visava permitir que o Parlamento anulasse uma decisão da Suprema Corte por maioria simples, foi abandonada, assegurou Netanyahu em junho.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que havia pedido ao governo israelense em março para encontrar um meio-termo, convidou Netanyahu na segunda-feira, durante conversa por telefone, a visitar os Estados Unidos, de acordo com o gabinete do premiê israelense.
Um porta-voz da Casa Branca, John Kirby, falou sobre uma reunião possivelmente "no outono" (do hemisfério norte).
Biden recebe nesta terça, em Washington, o presidente israelense Isaac Herzog, que desempenha um papel essencialmente protocolar. Antes de partir para os Estados Unidos, Herzog também havia pedido às partes israelenses que entrassem em um acordo.