Presidente israelense Isaac Herzog fala à mídia após uma reunião no Salão Oval com o presidente dos EUA Joe BidenKevin Dietsch/AFP

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou de "indestrutível" a relação com Israel, apesar das tensões com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e sua reforma judicial, durante uma reunião na Casa Branca com o chefe de Estado israelense, Isaac Herzog, nesta terça-feira (18).

O presidente de Israel, cujo papel é essencialmente protocolar, não se esquivou de comentar sobre a polêmica em torno da reforma, que desencadeou protestos multitudinários e cujos opositores consideram uma ameaça à democracia.

"É um debate acalorado, mas também é uma virtude e um tributo à grandeza da democracia israelense", disse Herzog a Biden. "Permitam-me reiterar, claro - claro como a água - que a democracia israelense é sólida, forte e resistente".

O presidente americano considera que a reforma é obra de um governo "extremista" e também é bastante crítico da ampliação dos assentamentos judaicos nos territórios palestinos ocupados.

Biden recebeu Herzog no Salão Oval, onde disse a seu interlocutor: "Você sabe que meu amor por Israel está muito enraizado e é duradouro".

Em seu discurso no início do encontro, Biden destacou a determinação de Washington para impedir que o Irã consiga armas nucleares e também falou do degelo diplomático que permitiu uma aproximação dos laços entre Israel e países árabes.

Mas quem realmente detém o poder em Israel é o primeiro-ministro Netanyahu, e suas relações com o governo Biden têm sido difíceis desde que retornou ao cenário político à frente de uma coalizão de partidos de extrema direita e ultraortodoxos.

Alguns congressistas do Partido Democrata de Biden consideram inclusive a possibilidade de boicotar o discurso de Herzog no Congresso, marcado para esta quarta, em sinal de protesto.

Preocupação
Na véspera da visita de Herzog, Biden aliviou um pouco a tensão falando com Netanyahu por telefone e aceitando uma reunião com ele ainda este ano nos Estados Unidos.

Esta será a primeira reunião deste tipo desde que Netanyahu voltou ao poder no final do ano passado.

Mas o governo Biden não quis dizer se o encontro seria na Casa Branca ou em outro lugar, como, por exemplo, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York.

"Simplesmente ainda não decidimos", afirmou hoje a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, que nega a existência de algum tipo de "hesitação".

Na segunda-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, estimou que a reunião aconteceria mais para o final de este ano, talvez "no outono" boreal.

No telefonema de segunda, Netanyahu disse a Biden que o projeto de lei judicial seria aprovado na semana que vem e que sua intenção era "obter amplo apoio" da opinião pública para o restante da reforma, informou seu gabinete.

Os americanos, no entanto, fizeram uma leitura diferente da conversa. Biden "expressou preocupação pelo crescimento contínuo dos assentamentos judaicos" e "ressaltou a necessidade de tomar medidas para manter a viabilidade" de um futuro Estado palestino junto a Israel, diz o comunicado.

Sobre a reforma judicial, "Biden reiterou [...] a necessidade de um consenso o mais amplo possível" e destacou que "os valores democráticos compartilhados sempre foram e deverão continuar sendo um marco distintivo da relação entre Estados Unidos e Israel", acrescenta o texto.

No começo de julho, Biden declarou à CNN que Netanyahu está "tentando solucionar [...] seus problemas existentes em relação à sua coalizão". É "um dos gabinetes [...] mais extremistas que já vi", afirmou.

O consentimento de Biden para a reunião com Netanyahu não significa que os Estados Unidos tenham "menos preocupações sobre essa reforma judicial, ou menos preocupações sobre algumas das atividades e comportamentos extremistas de alguns membros do gabinete de Netanyahu", esclareceu Kirby na segunda-feira.