Gabriel Boric, presidente do ChileJavier Torres/AFP
No palácio presidencial onde Salvador Allende se suicidou em 11 de setembro de 1973, Boric falou para parentes de vítimas da ditadura e para os presidentes de Bolívia, Luis Arce; México, Andrés Manuel López Obrador; Colômbia, Gustavo Petro, e Uruguai, Luis Lacalle Pou.
"Nós nos revoltamos quando nos dizem que não havia outra alternativa. Certamente havia! E amanhã, quando vivermos outra crise, sempre haverá outra alternativa que implique mais democracia, e não menos", disse Boric em discurso para convidados, entre eles a presidente da associação Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, o ex-presidente uruguaio José Mujica, o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón e o guitarrista do Rage Against The Machine, Tom Morello.
Cinquenta anos após o golpe, a elite política segue profundamente dividida. Nenhum representante dos partidos de direita compareceu ao ato no La Moneda. Também não participaram de uma declaração em favor da democracia assinada na semana passada por Boric e os quatro ex-presidentes do período democrático.
O partido de direita União Democrata Independente (UDI), que não participou do ato no palácio presidencial, divulgou um comunicado afirmando que a queda de Allende ocorreu devido à "situação extrema que o Chile vivia" e à "polarização severa provocada por um setor da esquerda chilena. "A ruptura" institucional e social "em 11 de setembro se transformou em algo inevitável", publicou o partido UDI.
"Não há como separar o golpe de Estado do que veio depois. Desde o mesmo momento, foram violados os direitos humanos dos chilenos", acrescentou o presidente chileno, 37, único presidente pós-ditadura que não era nascido na época do golpe.
Durante a noite, milhares de pessoas se aproximaram do Estádio Nacional de Santiago, que durante o regime militar foi transformado em um gigantesco centro de torturas, e acenderam velas em memória das vítimas.
Durante alguns incidentes, um cinegrafista de um canal de televisão local foi atingido por um tiro no rosto e um policial foi ferido. Os dois estão fora de perigo, segundo as autoridades.
Emoção
Miller ressaltou que o governo Biden "tentou ser transparente sobre o papel americano nesse capítulo da história chilena ao desclassificar recentemente documentos de 1973", atendendo a uma solicitação do governo chileno.
Em Santiago, a cerimônia teve momentos carregados de emoção, como o minuto de silêncio observado às 11h52, hora exata em que o Palácio de La Moneda foi bombardeado pela Aeronáutica há 50 anos. Um total de 1.747 assassinatos e 1.469 desaparecimentos foram registrados durante a ditadura chilena.
A senadora socialista Isabel Allende, filha do presidente deposto, comoveu os participantes ao narrar sua experiência há 50 anos, seguida, na primeira fila, por Maya Fernández, ministra da Defesa e neta de Salvador Allende.
A senadora lamentou o que chamou de retrocessos: "Os partidos de direita foram incapazes de assinar uma carta fortalecendo a democracia, dizendo que nunca mais, sob hipótese alguma, poderá haver um golpe de Estado. Isso é muito doloroso. A História irá julgar."
Divisão
"Isto não é para dividir as pessoas, e sim para fazê-las entender que os atos de violência jamais devem ser permitidos, em nenhuma parte, por nenhuma bandeira política. São coisas que não podem ser transgredidas", disse à AFP a fonoaudióloga Kerty Olivares, 35.
Para esta noite estava prevista uma vigília à luz de velas no estádio Nacional de Santiago, convertido em centro de detenção e torturas durante a ditadura.
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