Washington - Os Estados Unidos correm o risco novamente de sofrer uma paralisação orçamentária que pode suspender os serviços públicos e deixar em desemprego técnico milhares de funcionários do Estado, caso os congressistas não cheguem a um acordo sobre a lei de orçamento, com a ajuda militar à Ucrânia como um dos problemas.
Quatro anos depois de quase dar calote na dívida pública, o Congresso deve adotar até a meia-noite de 30 de setembro um acordo sobre uma nova lei orçamentária para o próximo ano, e, assim, evitar a paralisação do governo.
Caso a decisão ultrapasse este prazo, os primeiros afetados seriam os milhões de funcionários públicos federais que não receberiam salários enquanto durar a paralisação do funcionalismo público.
A pouco mais de um ano das eleições presidenciais, em que o presidente Joe Biden tentará a reeleição, as tensões no Congresso atingiram seu ápice.
"Financiar o governo é uma das responsabilidades mais básicas do Congresso. É hora de os republicanos começarem a fazer o trabalho para o qual os EUA os elegeram", disse Biden no sábado.
Nesta segunda-feira (25), a Casa Branca voltou a acusar os "radicais republicanos da Câmara" de Representantes de assumirem o risco de "comprometer a assistência alimentar vital para quase sete milhões de mulheres e crianças vulneráveis" e de "brincar com a vida das pessoas", visto que uma paralisação no serviço público corta todos estes gastos federais.
As tensões entre os democratas e parte dos republicanos se concentra em um pacote de ajuda adicional a Kiev, após a visita do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, a Washington, na última quinta-feira.
Os dois partidos do Senado são favoráveis a esta assistência, enquanto a Câmara Baixa, controlada pela oposição - um grupo de congressistas associados ao ex-presidente Donald Trump - rejeitou a votação.
"Não votarei para dar um único centavo à guerra na Ucrânia. Estou com os Estados Unidos primeiro", declarou a republicana Marjorie Taylor Greene.
"As pessoas do meu distrito, e de todo o país, estão cansadas de financiar os outros", corroborou o deputado Eli Crane.
- Tensões recorrentes - A votação orçamentária no Congresso se transformou em uma frequente queda de braço, com o funcionalismo público no meio de um embate para obter concessões da outra parte. O assunto é comumente resolvido de última hora.
Mas este ano as tensões se agravaram com a polarização do Congresso.
No Senado, os líderes dos dois partidos, Chuck Schumer (dos democratas) e Mitch McConnell (dos republicanos), continuam as negociações.
"Ambos somos fortemente a favor de ajudar a Ucrânia", disse Schumer à CNN na sexta-feira, demonstrando-se "muito otimista".
Em nota publicada nesta segunda-feira, a agência de classificação de risco Moody's destacou que a falta de um acordo evidenciaria a "fragilidade da governança e das instituições nos Estados Unidos em termos de política orçamentária" e poderia "ter um efeito negativo na dívida soberana" dos Estados Unidos. A Moody's é a única agência que mantém a nota máxima, AAA, para a dívida pública da maior potência mundial.
Se um acordo não for alcançado, o Congresso poderia adotar um projeto de orçamento provisório, o que daria alguns meses para os legisladores chegarem a um entendimento mais definitivo.
A ameaça de paralisação ocorre apenas quatro meses depois de uma novela sobre o aumento do limite da dívida que gerou preocupações sobre a possibilidade de um calote sem precedentes por parte dos Estados Unidos.
No âmbito do acordo alcançado para evitar tal manobra, os democratas aceitaram limitar alguns gastos, o que teria permitido a aprovação do orçamento.
Mas, "hoje, um pequeno grupo de republicanos radicais não quer respeitar o acordo, e todos nos Estados Unidos poderão ser prejudicados", disse Biden.
"Temos que nos trancar num escritório e resolver o problema" resumiu no domingo o republicano Tony Gonzales. "Não quero um 'shutdown', mas é real para mim que o país caminha para essa situação e todos devem se preparar", acrescentou.
A falta de acordo pode ter diversas consequências, como o atraso de envio de ajuda alimentar, a interrupção no tráfego aéreo, a falta de manutenção em parques nacionais e funcionários "não essenciais" ficariam sem receber pagamentos até que a situação fosse resolvida.
Os Estados Unidos tiveram quatro grandes paralisações desde 1976. A última, e mais longa, durou mais de um mês, do final de 2018 ao início de 2019, e reduziu o PIB dos EUA em 3 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 12 bilhões, na cotação da época), de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso dos EUA (CBO, na sigla em inglês).
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