Presidente Joe BidenAFP

O governo do presidente democrata Joe Biden anunciou, nesta quinta-feira (5), a decisão de expandir o muro na fronteira com o México. A medida, considerada polêmica, contrasta com suas promessas de campanha de 2020, quando afirmou que "nem mais um centímetro de muro seria construído" durante seu mandato. Além disso, a verba destacada para essa medida será utilizada a partir de alocações anteriores concedidas pelo Congresso ao então presidente republicano Donald Trump.

A medida, publicada no 'Federal Register' – espécie de 'Diário Oficial' americano – coincidiu com a visita do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ao México, onde discutiu questões migratórias e o tráfico de fentanil com o governo mexicano. O Secretário de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, justificou a ação com a 'necessidade aguda e imediata' de combater entradas ilegais na fronteira.

No entanto, a decisão não foi bem recebida pelo presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que a classificou como um 'retrocesso': "Esta autorização para a construção do muro é um retrocesso, porque isso não resolve o problema. É preciso atender as causas (da migração irregular)", disse o presidente durante sua habitual entrevista coletiva matinal, pouco antes de receber o secretário Blinken.

A decisão também preocupa os defensores do meio ambiente, já que envolve a revogação de cerca de vinte leis e regulamentos federais, muitos deles ambientais, para instalar 'barreiras físicas e estradas adicionais' no Texas.

A construção de um muro em toda a extensão da fronteira com o México tornou-se uma questão emblemática durante todo o governo Trump, que afirmou que o país vizinho pagaria por ele. Ao assumir o cargo, Biden suspendeu a construção da estrutura e buscou redirecionar os fundos para a segurança fronteiriça por meio de tecnologia. No entanto, enfrentou resistência no Congresso e críticas sobre a situação na região.

A administração federal alega que está apenas 'cumprindo a lei' ao usar fundos alocados pelo Congresso no ano fiscal de 2019 para a construção do muro no Vale do Rio Grande, uma área de alto influxo de entrada ilegal. No período entre outubro de 2022 a agosto deste ano, mais de 245.000 foram interceptados pela patrulha de Fronteira nesse local tentando entrar ilegalmente no país. "O dinheiro foi alocado para o muro na fronteira. Tentei que fosse realocado, que esse dinheiro fosse redirecionado. Não o fizeram", justificou o presidente. "Estamos aplicando a lei", insistiu a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, em sua coletiva de imprensa diária.

Decisão tem desdobramento político e pode impactar na disputa presidencial de 2024

Trump reagiu em sua plataforma Truth Social dizendo que a medida mostra que "estava certo" ao construir "um novo e lindo muro na fronteira". O ex-presidente também perguntou se "Joe Biden vai se desculpar (...) por demorar tanto para agir".
A crise migratória é um desafio significativo para a corrida à Casa Branca e se tornou um problema constante para a administração Biden, que busca encontrar soluções em meio a pressões políticas não apenas dos republicanos, mas também de cidades governadas por democratas que não dão conta da chegada em massa de migrantes.
Além disso, a ala linha-dura dos republicanos impediu a destinação de mais fundos para a guerra na Ucrânia, argumentando que deveriam ser usados para conter a crise migratória. Essa obstrução quase causou uma paralisação orçamentária. A porta-voz da Casa Branca negou que a construção do muro seja um gesto para que os republicanos aceitem um novo pacote para a Ucrânia. "Não estabeleceria uma ligação", afirmou.
Recentemente, os democratas aplicaram alguma medidas mais concretas em relação ao fluxo migratório no país como o envio adicional de 800 militares para a fronteira e a concessão de refúgio a quase meio milhão de venezuelanos.
*Com informações da AFP
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