Brasil e Alemanha assinam acordos em áreas como energia e inovaçãoRicardo Stuckert/PR
O documento engloba instrumentos de cooperação em áreas como meio ambiente e mudança do clima, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação, desenvolvimento global, integridade da informação e combate à desinformação. Os acordos que já vêm sendo discutidos há meses.
Em declaração à imprensa após o encontro, Lula destacou a amplitude dos atos. “Adotamos a parceria para uma transformação ecológica e socialmente justa. Vamos reforçar a robusta cooperação na área ambiental que inclui o Fundo Amazônia e muitos outros projetos. Queremos atuar juntos na promoção da industrialização verde, agricultura de baixo carbono e da bioeconomia”, detalhou Lula.
O chanceler Olaf Scholz endossou a disposição dos dois países em lutar em prol da sustentabilidade e da descarbonização das indústrias. Segundo Scholz, o país europeu vai lançar projetos para contribuir com a meta brasileira de alcançar o desmatamento zero até 2030. “Queremos criar indústrias neutras e promover pesquisa em matéria climática. Essa transição só será bem sucedida se for socialmente justa”, disse, explicando a intenção de gerar empregos no Brasil através da transformação de matérias-primas.
“Os nossos ministros assinaram mais de uma dúzia de declarações de intenção para dotar essa parceria de conteúdo. Isso passa por uma cooperação aprofundada nos setores de energias renováveis e hidrogênio. Nós associamos o potencial do Brasil ao interesse da Alemanha ao hidrogênio verde”, acrescentou Olaf Scholz.
Lula acrescentou que as “forças antidemocráticas” atuam internacionalmente de forma coordenada para fomentar o extremismo, por isso a importância do acordo bilateral.
As Consultas de Alto Nível são o mais elevado mecanismo teuto-brasileiro, que teve sua única reunião em Brasília, em 19 e 20 de agosto de 2015. A então Chanceler Angela Merkel visitou o Brasil acompanhada de sete ministros e cinco vice-ministros federais. A partir do encontro de hoje, os dois países realizarão as consultas a cada dois anos.
A presidência brasileira no G20, que teve início em 1º de dezembro, e o acordo Mercosul-União Europeia também foram discutidos na reunião.
Na agenda de hoje, Lula também tem reunião com altos representantes de empresas alemãs e brasileiras e participa da sessão de encerramento do seminário empresarial Brasil-Alemanha. Segundo Lula, será a oportunidade para apresentar os projetos do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Agenda
A programação da comitiva brasileira na capital alemã teve início ainda ontem, com um jantar de trabalho oferecido pelo chanceler Olaf Scholz. Nesta segunda-feira, Lula iniciou o dia numa agenda com o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e, na sequência, com a presidenta do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig.
Com Frank-Walter Steinmeier, o presidente tratou sobre investimentos em infraestrutura via Novo PAC; avanços no processo de melhoria do cenário econômico brasileiro; reafirmação da prioridade à proteção ambiental e uma perspectiva de almejar protagonismo na transição energética. De acordo com o Palácio do Planalto, durante o diálogo, o presidente alemão agradeceu, “em nome da Alemanha e do mundo”, a retomada da proteção do meio ambiente e da Amazônia com as políticas adotadas desde janeiro de 2023 pelo governo federal.
Já o encontro com Manuela Schwesig teve o objetivo de profundar as relações entre governadores de regiões da Alemanha com o Brasil, ampliar cooperações já existentes no setor de bioenergia e sinalizar novas oportunidades para a relação entre empresários do Brasil e do país europeu. O Conselho Federal da Alemanha reúne governos locais, no que seria uma espécie de Senado, numa comparação com os moldes de governo brasileiro. A presidente da entidade também é governadora de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental.
Em comunicado, a Presidência da República informou ainda que Lula e Schwesig reforçaram a importância da democracia, “em especial diante de ameaças representadas pela extrema-direita”. “Schwesig agradeceu a volta de um Brasil democrático e saudou a longeva e sólida relação entre Brasil e Alemanha, inclusive com empresas do seu estado com negócios em bioenergia no Brasil, no Paraná e Santa Catarina, aproveitando sobras da criação de animais para gerar energia”, diz.
Terceira maior economia mundial, atrás dos Estados Unidos e da China, a Alemanha é um importante parceiro do Brasil, sobretudo nos campos tecnológico e industrial. Mais de mil empresas alemãs atuam em território brasileiro e, segundo o Banco Central, o país germânico é a oitava maior fonte de investimentos no Brasil, com US$ 23,73 bilhões em estoque.
O comércio bilateral alcançou US$ 19 bilhões em 2022. Entre janeiro e outubro de 2023, já somou US$ 15,9 bilhões.
Guerras
Lula disse que os conflitos internacionais não foram objeto de ampla discussão na reunião de hoje e que continuará brigando pela paz e pela reforma dos organismos internacionais, capazes de decidirem sobre as controvérsias do mundo. Para o presidente, o ato do Hamas foi terrorista e irresponsável, ao atacar Israel, e as Nações Unidas deveriam ter interferido para evitar a intensificação do conflito.
“A única solução para o conflito entre Israel e os palestinos é a consolidação de dois países, para viverem nos seus territórios pacificamente, harmonicamente. E é preciso ter vontade. Já conversei com muita gente de Israel e da Palestina, mas parece que tem gente que não quer paz, que não quer dois países. O povo quer, quem não quer é porque tem outros interesses”, afirmou, lamentando a grande quantidade de mortes de mulheres e crianças na Faixa de Gaza. “Ninguém deve morrer por irracionalidade de chefes de governos, de grupos, ninguém deve ser vitimado pela irracionalidade”, acrescentou.
O chanceler Olaf Scholz endossou a necessidade de se evitar as vítimas civis e defendeu a entrada de ajuda humanitária duradoura em Gaza. Sholz concorda com a importância de reforma da governança global e disse que s agressão a países vizinhos é inaceitável.
“O ataque do Hamas é um crime hediondo, que violou todos os princípios da humanidade. Por isso que Israel tem direito a autodefesa, que também deverá ter direito de derrotar o Hamas e impedir que conduza novos ataques”, disse o alemão. Para ele, ao fim da guerra, é possível um futuro que passa pela convivência de dois Estados. “Mas não é possível com o Hamas, que quer destruir Israel. Agora, a perspectiva de paz com dois Estados e com autogestão por parte dos palestinos é uma ideia que apoiamos”, completou.
No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um ataque surpresa de mísseis contra Israel e a incursão de combatentes armados por terra, matando civis e militares e fazendo centenas de reféns israelenses e estrangeiros. Em resposta, Israel bombardeou várias infraestruturas do Hamas, em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do abastecimento de água, combustível e energia elétrica.
Os ataques já deixaram milhares de mortos, feridos e desabrigados nos dois territórios. A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos quais descendem israelenses e palestinos.
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