Guerra foi desencadeada após ataques do Hamas em 7 de outubroSaid Khatib/AFP

Israel prosseguia nesta terça-feira (12) com os bombardeios contra a Faixa de Gaza, depois de afirmar que sua campanha para destruir o que resta do Hamas deixou o movimento islamista palestino "à beira da dissolução".

Organizações humanitárias expressaram o temor de que o território cercado seja dominado por doenças e pela fome, ao mesmo tempo que pressionam Israel a aumentar a proteção dos civis.

Os combates ficaram ainda mais intensos nesta terça-feira e o Hamas anunciou confrontos no centro de Gaza. Testemunhas relataram bombardeios israelenses no sul do território.

Na segunda-feira, as tropas israelenses bombardearam a principal cidade do sul de Gaza, Khan Yunis, atual epicentro dos combates, além de Rafah, na fronteira com o Egito, onde dezenas de milhares de pessoas procuraram refúgio.

"O Hamas está à beira da dissolução, as FDI (Forças de Defesa Israelense) estão ocupando seus últimos redutos", afirmou na segunda-feira à noite o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant.

A guerra começou com o ataque do Hamas de 7 de outubro que deixou 1.200 mortos, segundo o governo de Israel. O grupo islamista também sequestrou 240 pessoas.

Israel respondeu com uma ofensiva militar que destruiu grande parte de Gaza e matou pelo menos 18.200 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

O comandante do Exército israelense, Herzi Halevi, visitou centro de Khan Yunis na segunda-feira e afirmou que suas tropas estavam "assegurando nossas conquistas no norte da Faixa de Gaza, a entrada na parte sul da Faixa e também no subsolo profundo".

A ONU calcula que 1,9 milhão dos 2,4 milhões de habitantes do território foram deslocados, quase metade deles crianças.

Os bombardeios intensos e combates no sul, para onde Israel determinou que os civis deveriam seguir por questões de segurança, deixaram os moradores com poucas opções de refúgio.

Umm Mohammed al-Jabri perdeu sete filhos em um bombardeio em Rafah, para onde fugiu com a família depois de deixar a Cidade de Gaza.

"Ainda tenho quatro filhos", afirmou Jabri, de 56 anos. "Durante a noite bombardearam a casa onde estávamos e a destruíram. Não existe local seguro".

Sem abastecimento
A situação em Gaza é "apocalíptica", afirmou na segunda-feira Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, lamentando que o nível de destruição no território palestino é "equivalente, ou até superior" ao da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

Os serviços de saúde estão devastados e apenas 14 dos 36 hospitais de Gaza estão operacionais, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

No centro de Gaza, o hospital Al Aqsa recebeu muitas vítimas na segunda-feira, incluindo dezenas de crianças, após os ataques israelenses contra o campo de refugiados Al Maghazi.

No bairro Al Rimal da Cidade de Gaza, milhares de palestinos criaram um acampamento na sede de uma agência da ONU, depois que suas casas foram destruídas pelos bombardeios israelenses.

Um correspondente da AFP informou que as universidades Islâmica e Al Azhar foram destruídas. "Não há água, energia elétrica, nem pão e leite para as crianças, nem fraldas", lamentou Rami al-Dahduh, um alfaiate de 23 anos.

Diante da pressão para fazer mais pelos civis, Israel anunciou na segunda-feira que abriria um posto de controle adicional para inspecionar os caminhões antes de sua entrada em Gaza. A medida deve permitir a entrada de mais ajuda no território devastado.

Israel explicou que isto não implicará a abertura de novas passagens de fronteira. As passagens de Nitzana e Kerem Shalom serão utilizadas para verificar os caminhões de ajuda antes da entrada em Rafah.

ONU
A Assembleia Geral da ONU deve votar nesta terça-feira uma resolução não vinculante que pede "um cessar-fogo humanitário" em Gaza, um apelo que o Conselho de Segurança não conseguiu votar.

O governo dos Estados Unidos, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, utilizou seu poder de veto na sexta-feira para impedir a aprovação de uma resolução que pedia o cessar-fogo.

Para aumentar a pressão, países árabes convocaram uma sessão da Assembleia Geral depois que vários embaixadores de países do Conselho de Segurança visitaram a fronteira de Rafah.

O projeto de texto, ao qual a AFP teve acesso, retoma em grande parte a resolução bloqueada na sexta-feira pelos Estados Unidos.

A guerra aumentou o receio de que o conflito se alastre a outros países da região. Grupos apoiados pelo Irã atacaram tropas americanas e aliadas no Iraque e na Síria. Além disso, confrontos são registrados diariamente na fronteira de Israel com o Líbano.