Javier Milei, atual presidente da ArgentinaJuan Mabromata / AFP
Como interpretar a alta desvalorização do peso?
Minha impressão é que ele começou a dar cara e nome ao ajuste fiscal. Mas fica muito aquém de um plano de estabilização. É um ajuste fiscal para eliminar o déficit, que foi apresentado no início como a raiz de todos os problemas da Argentina. Isso me parece um diagnóstico incompleto e, portanto, uma proposta que não chamo de programa, nem de plano. Fala-se muito em equilibrar as contas públicas, mas falta um plano para lidar com a inflação.
O governo pretende manter e aumentar os programas sociais, mas diz que 'não há dinheiro'. Como ele fará para mantê-los?
Isso era algo que ele já dizia que manteria, que o único caixa aberto seria o do Ministério do Capital Humano. Ele dizia que herdou toda a parte das medidas sociais. Há dois programas muito pontuais: o benefício único por filho (AUH, na sigla em espanhol), que duplicará seu valor, e o Cartão Alimentação, que terá um aumento de 50%.
Por que não houve medida para unificar os câmbios?
Faltam muitas definições, e essa é uma delas. Em termos de mercado cambial, as explicações ficaram muito aquém, porque nem foram estabelecidas quantas serão as taxas. Ele disse que quem vai pagar é o exportador, que vai cobrar 800 pesos (por dólar), mas ele vai ter de pagar retenções que não foram informadas, e o importador vai pagar um imposto adicional que também não foi informado.
As medidas vão ajudar Milei a conquistar a confiança de investidores e atrair dólares?
Não. Um primeiro passo seria explicar como ele pretende evitar o déficit. Isso é uma etapa ou parte de um processo que tem de ser muito mais amplo do que um programa que diga como vamos estabilizar a inflação, e isso tem outros componentes que não são só fiscais, mas são monetários, cambiais e de renda. Nessas três últimas partes não houve anúncio e nem explicação.
Qual o impacto da redução de transferências para as províncias?
Esse dinheiro as províncias usam para projetos ligados a saúde e educação, para construir escolas, por exemplo. Então, é um golpe Para piorar, a restrição de exportações tornará os produtos regionais menos competitivos.
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