Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, e Volodymyr Zelensky, presidente da UcrâniaMiguel Medina/Cornelius Poppe / NTB / AFP

A Hungria bloqueou um novo pacote de ajuda financeira da União Europeia (UE) à Ucrânia na madrugada desta sexta-feira, 15, depois que Bruxelas decidiu iniciar negociações formais para a adesão com Kiev. O bloco europeu havia aprovado um pouco antes a decisão histórica de iniciar negociações de adesão com os ucranianos, mas fracassou na aprovação do auxílio de 50 bilhões de euros (55 bilhões de dólares, R$ 270 bilhões).

Em uma entrevista a uma rádio local, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, afirmou que o veto seria retirado apenas em caso de liberação dos fundos da UE destinados aos húngaros, que foram bloqueados por dúvidas sobre a vigência do Estado de Direito.

"Sempre disse que se alguém quiser apresentar uma emenda ao orçamento da UE (...) a Hungria aproveitaria a ocasião para reivindicar claramente o que merece. Não a metade, não um quarto, e sim a totalidade", declarou o chefe de Governo nacionalista.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou durante a madrugada que os líderes da UE devem voltar a abordar o tema em janeiro.

Uma vitória
A quinta-feira, 14, foi marcada pela decisão histórica da UE de iniciar negociações formais com a Ucrânia e Moldávia para a adesão dos dois países ao bloco. Além disso, a UE concordou em conceder à Geórgia a condição de país aspirante à adesão.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, afirmou na rede social X que a decisão é "uma vitória para a Ucrânia. Uma vitória para toda a Europa".
Esta era a decisão mais importante que os dirigentes do bloco europeu tinham em mãos na cúpula que começou na quinta, já que a oposição da Hungria para abrir as negociações parecia inflexível. O processo de adesão à UE normalmente demora vários anos, período de longas negociações e implementação de reformas. Em alguns casos pode durar mais de uma década.

Orban se ausenta da sala
Fontes diplomáticas afirmaram à AFP que Orban aceitou se ausentar temporariamente da sala de reuniões no momento em que os 26 países restantes do bloco aprovaram a moção sobre as negociações com a Ucrânia.

Zelensky conversou com os colegas europeus por videoconferência e, em seu pronunciamento, os advertiu que rejeitar o diálogo representaria um fracasso para a Ucrânia e que a Rússia utilizaria em seu favor. Por sua vez, a presidente da Moldávia, Maia Sandu, afirmou no X que seu país "virou hoje uma página com o sinal verde da UE para as conversas de adesão".
Esta decisão aconteceu no momento em que se acumulavam as dúvidas sobre a continuidade do apoio dos países ocidentais à Ucrânia em sua guerra contra a invasão russa, que começou em fevereiro de 2022. O chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, se manifestou pelas redes sociais indicando que a decisão constitui "um forte sinal de apoio" à Ucrânia.
Para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, trata-se de "um dia que permanecerá gravado na história de nossa União". Já o presidente da França, Emmanuel Macron, disse que foi uma resposta "lógica, justa e necessária".

Por sua vez, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, assinalou que é "uma poderosa mensagem geoestratégica também para o resto do mundo, não somente para a Rússia".

Durante a reunião, segundo Varadkar, Orban "apresentou seus argumentos e de maneira muito enfática. Ele está em desacordo com esta decisão [...] mas essencialmente decidiu não utilizar seu poder de veto".

A UE anunciou na quarta-feira, véspera da reunião, o desbloqueio de pagamentos a Hungria de até 10,2 bilhões de euros (11 bilhões de dólares, 54 bilhões de reais) que haviam sido congelados por dúvidas sobre o funcionamento do Estado de direito no país.