Manifestantes protestam contra Trump em frente a tribunal em Nova YorkAngela Weiss/AFP

Um dia depois de sua vitória contundente em Iowa, Donald Trump compareceu, nesta terça-feira (16), no tribunal de Nova York, onde começou a ser julgado por difamação em um processo movido por uma escritora que já ganhou outro por agressão sexual contra ele no ano passado.

O ex-presidente republicano, que busca retornar à Casa Branca nas eleições de novembro, anunciou na quinta-feira passada a intenção de comparecer ao tribunal para se defender das acusações de E. Jean Carroll, de 80 anos, ex-colunista da revista Elle, que reivindica 10 milhões de dólares (48,7 milhões de reais, na cotação atual) por danos à sua reputação profissional.

Trump chegou a bordo de um comboio de veículos pretos ao tribunal localizado no sul de Manhattan, que amanheceu coberto por uma camada de neve, uma paisagem que se tornou comum nas últimas semanas. Na sexta-feira passada, outro julgamento contra ele e dois de seus filhos por fraude fiscal foi concluído em outro tribunal de Nova York. Segundo a imprensa judiciária presente na sala, os dois protagonistas não trocaram olhares.

O julgamento, que começou com a seleção do júri, centra-se nas declarações que o republicano de 77 anos fez em junho de 2019, depois de Carroll ter mencionado acusações de agressão sexual em um artigo de revista.

Na época, o então presidente disse que Carroll "não fazia o seu tipo" e que inventou toda a história para "vender seu novo livro".

"Nunca vi essa mulher na minha vida (…) não faço ideia de quem ela é", repetiu Donald Trump na semana passada sobre a escritora, a quem chamou de "mentirosa" depois de ter sido condenado a pagá-la, em outro julgamento em maio do ano passado, mais de 2 milhões de dólares (10,1 milhões de reais na cotação da época) por agressão sexual ocorrida em 1996 e quase 3 milhões de dólares também por outro caso de difamação em outubro de 2022 (16 milhões de reais na cotação da época). Trump recorreu da decisão.

O julgamento sofreu atrasos, devido a disputas processuais. O republicano, mais do que nunca favorito para ser o candidato republicano às eleições presidenciais de 4 de novembro, descreveu as diferentes batalhas judiciais que enfrenta como uma "caça às bruxas" destinada a impedir as suas aspirações presidenciais.

Com o julgamento desta terça-feira, o magnata tem pelo menos seis datas de audiências civis e criminais pendentes, mas que até agora não parecem prejudicar a sua carreira política.

"Eles não vêm atrás de mim, vêm contra vocês (…). Estou apenas no meio do caminho", escreveu em letras maiúsculas em suas redes sociais.

Este julgamento poderá levantar mais uma vez a questão do comportamento de Trump com as mulheres, já que foi acusado de agressão sexual em diversas ocasiões, embora nunca tenha sido condenado criminalmente.

"Caos"
Em uma demonstração das tensões em torno do novo julgamento, o juiz ordenou que a identidade dos membros do júri fosse mantida em segredo.

Em uma tentativa de evitar que a audiência se transforme em um comício político, o juiz de instrução Lewis Kaplan deixou claro que "a única coisa que está em jogo no julgamento são os danos causados à senhora Carroll pelas declarações" que considera "difamatórias", "falsas" e "maliciosas".

A advogada de Carroll, Roberta Kaplan, escreveu ao juiz na última sexta-feira para alertá-lo sobre o risco de a presença do republicano gerar um "caos" e se transformar em um "circo" na audiência.

De acordo com o arquivo judicial, Trump solicitou o adiamento do julgamento para comparecer ao funeral de sua sogra, Amalija Knavs, na quinta-feira, na Flórida.

Mas o juiz negou o pedido, lembrando-lhe que na noite de quarta-feira planejava participar de um comício em New Hampshire, na segunda disputa das primárias com o desejo de retornar à Casa Branca, de onde o democrata Joe Biden expulsou-o há quase quatro anos.