Irfaan Ali (à esquerda), presidente da Guiana, e Nicolás Maduro (à direita), presidente da VenezuelaAFP
O encontro entre o venezuelano Yván Gil e o guianense Hugh Hilton Todd é parte de um compromisso assumido em dezembro pelos presidentes Nicolás Maduro e Irfaan Ali para evitar o uso da força em meio a tensões que despertaram temores de um conflito armado na região.
Gil chegou a Brasília na quarta-feira para "uma nova etapa de diálogo direto, de diálogo bilateral".
Na cúpula de São Vicente e Granadinas foi estabelecido um novo encontro presidencial no Brasil em três meses.
"A reunião é um passo muito importante para o cumprimento do que estabelecemos em São Vicente", disse Ali à AFP em Georgetown.
Poucos dias após a cúpula de dezembro, as tensões se agravaram com a chegada de um navio de guerra britânico às águas da Guiana, o que a Venezuela viu como uma provocação e respondeu mobilizando mais de 5.600 homens em exercícios militares perto da fronteira em disputa. A situação, no entanto, não escalou.
A disputa centenária se acirrou em 2015, quando a petroleira americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo na região.
As tensões se acentuaram após a celebração de um referendo sobre a soberania de Essequibo em 3 de dezembro na Venezuela, que impulsionou a criação de um estado formal neste território, visto por Georgetown -que o administra- como uma tentativa de anexação. Maduro criou ainda uma zona militar para esta área de 125.000 habitantes.
Para Iván Rojas, internacionalista venezuelano, o encontro serve para manter o "diálogo aberto", mas sem negociações a este respeito.
"É provável que concentre-se simplesmente na garantia mútua da manutenção da paz. Em outras palavras, este acordo existe para que haja comunicação constante entre as partes durante um momento de tensão. Nada mais, nada menos do que isso", explicou à AFP o diretor do Conselho Venezuelano de Relações Internacionais.
Gil assegurou que a agenda de trabalho passa por "canalizar todas as conversas no âmbito deste acordo" de Genebra e "rever tudo o que está relacionado a este acordo internacional, especialmente nos espaços marítimos que não foram delimitados".
"Revisar e trabalhar para evitar que terceiras potências ou potências imperialistas e militares de grande escala se envolvam na controvérsia", acrescentou.
Georgetown insistiu que estas reuniões não abordarão a disputa territorial, que deixam para a CIJ. Ali disse antes que a reunião serviria para delinear uma agenda com questões relacionadas ao "comércio, clima, segurança energética... melhorar a nossa relação de vizinhança".
"Todas essas coisas são cruciais para um ambiente estável e pacífico."
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.