Bandeira da ArgentinaAFP
Após uma desvalorização de mais de 50% na taxa de câmbio oficial decidida por Milei em 13 de dezembro, dois dias após sua posse, os setores com as maiores altas no mês passado foram bens e serviços (32,7%), saúde (32,6%), transporte (31,7%) e equipamentos e manutenção do lar (30,7%), detalhou o Indec.
No entanto, "a divisão com maior incidência em todas as regiões foi alimentos e bebidas não alcoólicas (29,7%)", destacou o instituto, enfatizando também os preços das carnes, pães e cereais.
A inflação em 12 meses na Argentina havia chegado a 160,9% em novembro, quando o índice de preços ao consumidor alcançou 12,8% no mês.
Para combater a escalada de preços e, principalmente, o déficit nas finanças públicas, Milei implementou medidas de austeridade que incluem a redução de subsídios para tarifas de energia e transporte, assim como a paralisação de obras de infraestrutura financiadas pelo Estado que ainda não começaram.
Além disso, decidiu por uma desvalorização da moeda de mais de 50%, dentro de um regime de controle em vigor na Argentina há anos, que contempla uma dezena de taxas de câmbio diferentes.
O dólar oficial era cotado a 835 pesos, enquanto o dólar informal, paralelo ou "blue" atingia 1.120 pesos nesta quinta-feira.
Correia de transmissão
"Se a inflação de dezembro é de 30%, é um ‘numeraço’; estávamos indo para 45%", disse Milei no último domingo.
Sobre o número inferior ao esperado pelo próprio presidente, Letcher estimou que o que "puxa para baixo" são os preços dos serviços públicos que ainda não foram atualizados.
"Normalmente, quando há uma desvalorização na Argentina, há um efeito direto sobre os preços. E os salários tendem a ser atualizados por último. Por isso ocorre a perda de poder de compra", indicou Letcher, diretor do Centro de Economia Política da Argentina.
Ademais, "o governo de Milei disse que iria atualizar as tarifas. O que acontece é que esse mecanismo ainda não foi implementado", explicou.
Resignação
"Hoje não podemos nem comprar leite com o preço do litro", disse María Ester Espíndola, uma aposentada de 65 anos.
Os argentinos seguem assombrados pela hiperinflação de até 3.000% que viveram entre 1989 e 1990 e pela dramática implosão econômica de 2001.
Ana Albornoz, uma babá de 53 anos, compara suas compras atuais com uma caça ao tesouro. "Antes eu ia a um único supermercado e agora tenho que ir a vários lugares para escolher cada coisa", relatou à AFP.
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