A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, cobrou neste domingo (3) que o grupo Hamas concorde com um cessar-fogo imediato de seis semanas, enquanto pediu vigorosamente Israel a fazer mais para aumentar as entregas de ajuda à Faixa de Gaza. Harris afirma que pessoas inocentes estão sofrendo uma "catástrofe humanitária".
"O Hamas afirma que quer um cessar-fogo. (...) Bem, há um acordo sobre a mesa. E como dissemos, o Hamas precisa concordar com esse acordo. Vamos reunir os reféns com as suas famílias e proporcionar ajuda imediata ao povo de Gaza", disse.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, mais de 120 pessoas, a maioria civis, morreram nos bombardeios israelenses das últimas 24h contra vários setores de Gaza, o que eleva o total de vítimas fatais em quase cinco meses de conflito a 30.534.
A guerra começou após o ataque sem precedentes de milicianos do Hamas contra Israel em 7 de outubro, quando 1.160 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.
Representantes do Egito, Hamas, Catar e Estados Unidos negociam no Cairo para tentar alcançar uma trégua. Um canal de televisão próximo ao governo egípcio mencionou "avanços significativos" nas conversações.
Os mediadores negociam há várias semanas para tentar obter um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos em Gaza em troca da liberação de detentos palestinos.
Quase 250 pessoas foram sequestradas pelo Hamas no ataque de 7 de outubro. Uma trégua no final de novembro permitiu a libertação de 105 reféns em troca de 240 presos palestinos.
"O Egito continua com seus intensos esforços para alcançar uma trégua antes do Ramadã", que começará em 10 ou 11 de março, informou a emissora "AlQahera News", que citou com fonte "um funcionário de alto escalão" do governo.
Para aceitar um acordo, o Hamas exige o retorno ao norte de Gaza dos deslocados, o aumento da ajuda humanitária, um cessar-fogo definitivo e a retirada dos militares israelenses.
Israel, que não participa nas negociações do Cairo, rejeita as condições e afirma que prosseguirá com as operações militares até "aniquilar" o Hamas. Também exige que o movimento islamista entregue uma lista dos reféns que permanecem em cativeiro em Gaza.
A ONU alertou que a fome é "quase inevitável" para 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes do pequeno território, submetido a um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo israelense desde que o Hamas tomou o poder em 2007. Bairros inteiros foram destruídos e 1,7 milhão de pessoas deslocadas na guerra.
Muitas vivem aglomeradas em Rafah, sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito, que está fechada. "As pessoas em Gaza estão passando fome. As condições são desumanas e nossa humanidade comum nos obriga a agir", aponta a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris.
Esta foi a primeira vez que uma autoridade do primeiro escalão dos EUA, principal aliado de Israel, pediu abertamente uma pausa das hostilidades.
Harris também fez um apelo a Israel, que controla a entrada de ajuda humanitária em Gaza, para "aumentar significativamente o fluxo de ajuda para uma população que precisa urgentemente de comida, água e outros tipos de assistência".
"Israel não deve impor restrições ao envio de ajuda. Não há desculpas!", completou a vice-presidente Joe Biden. Diante das dificuldades para transportar ajuda por rodovias, diversos países, incluindo os Estados Unidos, lançaram nos últimos dias alimentos por via aérea sobre a Faixa de Gaza.
Nas últimas horas, os bombardeios israelenses atingiram Rafah e Khan Yunis, no sul, Jabaliya e Nusseirat, no centro, e a Cidade de Gaza, ao norte, segundo o governo do Hamas e testemunhas. Na região norte de Israel, perto da fronteira com o Líbano, equipes de emergência israelenses anunciaram a morte de um trabalhador estrangeiro após o disparo de um míssil antitanque.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou que a guerra em Gaza pode levar a um "conflito muito mais amplo".
Estou profundamente preocupado de que, neste barril de pólvora, qualquer faísca possa levar a um conflito muito mais amplo. Isto teria implicações para todos os países do Oriente Médio e para muitos outros", afirmou no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.
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