Paraquedas foram lançados em praia de GazaAFP
Israel realizou novos bombardeios e prosseguiu com a ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, apesar do chamado a um "cessar-fogo imediato" do Conselho de Segurança da ONU.
O Ministério da Saúde de Gaza, governada pelo Hamas desde 2007, reportou mais de 80 mortos nas últimas 24 horas, 13 deles em bombardeios perto de Rafah, no extremo sul do território, onde vivem amontoados 1,5 milhão de palestinos, a maioria deslocados pelo conflito.
"Ouvimos uma forte explosão. Os escombros caíram sobre nós. Havia corpos destroçados nas árvores. Houve 22 ou 23 mártires", disse Husam Qazaat, em meio às ruínas em Rafah.
A situação humanitária no território é desesperadora e a maior parte de seus 2,4 milhões de habitantes estão ameaçados pela fome, segundo a ONU.
Ao menos 18 pessoas morreram tentando recolher ajuda lançada em paraquedas no norte do território, informou o Hamas nesta terça. Doze morreram afogadas no Mediterrâneo "nas últimas horas" e seis em tumultos, acrescentou o movimento islamista.
Israel controla estritamente a entrada de ajuda por via terrestre pela passagem de Rafah, fronteiriça com o Egito. Isto levou vários países a lançarem provisões de aeronaves.
O Hamas pediu para "cessar imediatamente" estas operações aéreas e abrir "rapidamente" os acessos terrestres ao território.
"As pessoas morrem por uma lata de atum", disse Mohamad Al Sabaawi, morador de Gaza mostrando a única conserva que conseguiu pegar.
Outro homem contou ter arriscado a vida por uma lata de feijões.
Indignação de Israel contra a ONU
A resolução, apresentada por membros não permanentes do Conselho, "exige um cessar-fogo imediato" durante o ramadã, mês sagrado de jejum dos muçulmanos, que começou há duas semanas, e "a libertação imediata e incondicional de todos os reféns" em poder do Hamas.
"Esta resolução deve ser aplicada. Seu descumprimento seria imperdoável", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em mensagem publicada na plataforma X.
Israel, irritado com os Estados Unidos, seu principal aliado histórico, cancelou a visita de uma delegação a Washington e declarou que a resolução da ONU prejudicava seus esforços para derrotar o Hamas e libertar os reféns.
"Não temos o direito moral de parar a guerra enquanto continuar havendo reféns em Gaza", disse o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, em visita aos Estados Unidos.
Seu contraparte americano, Lloyd Austin, disse-lhe, por sua vez, que as mortes de civis em Gaza são "elevadas demais" e afirmou que os dois discutiriam alternativas a uma operação israelense no sul do território palestino.
"O número de baixas civis em Gaza atualmente é alto demais e a quantidade de ajuda humanitária é muito pouca", disse Austin ao início de uma reunião com Gallant em Washington.
O Hamas comemorou a resolução da ONU e acusou Israel de buscar "o fracasso" das negociações em curso em Doha com vistas a uma trégua, com intermediação internacional.
O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em visita ao Irã, aliado do movimento palestino e inimigo declarado de Israel, avaliou que a votação na ONU demonstrava "o isolamento político sem precedentes" de Israel.
A guerra teve início em 7 de outubro com uma incursão de milicianos islamistas no sul de Israel a partir de Gaza, que deixou 1.160 mortos, a maioria civis. Os comandos também sequestraram cerca de 250, segundo contagem da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Uma centena de reféns foi trocada por 240 presos palestinos. Israel afirma que 130 continuam cativos em Gaza, dos quais 33 teriam morrido.
Em represália, Israel lançou uma ofensiva com o objetivo de "aniquilar" o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Até o momento, esta operação militar deixou 32.414 mortos, a maioria civis, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde de Gaza.
Operações militares em hospitais
O ministério informou que as forças israelenses realizavam "operações violentas nos arredores, em preparação a um ataque".
"Milhares de deslocados continuam dentro do hospital", acrescentou o ministério.
Desde o início do conflito, as forças israelenses realizam operações militares nos hospitais do território, alegando buscar combatentes palestinos.
Uma operação deste tipo começou em 18 de março no hospital Al Shifa da Cidade de Gaza, o maior do território palestino, onde o exército assegurou ter matado mais de 170 combatentes.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.