Ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela SommerfeldAFP
Isolado, Equador acusa México de violar norma internacional primeiro
Polícia equatoriana invadiu embaixada mexicana em Quito neste domingo (7)
Enquanto a comunidade internacional condenava a ação do Equador e o isolava pela invasão à Embaixada do México, que viola a Convenção de Viena sobre as sedes diplomáticas, autoridades equatorianas acusaram nesta segunda-feira (8), o governo mexicano de burlar essa convenção primeiro ao conceder asilo a um condenado por crimes comuns. Quito também afirmou que o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, cometeu interferência em assuntos domésticos com recentes declarações.
A ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, disse nesta segunda-feira (8) que o México violou primeiro as convenções internacionais ao conceder asilo político ao ex-vice-presidente Jorge Glas, condenado e indiciado em casos de corrupção. Glas foi preso na sexta-feira (5) depois que agentes entraram na embaixada mexicana em Quito, onde estava como refugiado.
Segundo a chanceler, seu país está aberto à reaproximação, desde que o México respeite sua soberania, após o que ela disse terem sido reiteradas declarações do presidente mexicano questionando a legitimidade das últimas eleições. O México rompeu seus canais diplomáticos com o Equador no sábado, após a invasão.
Em entrevista à TV equatoriana Ecuavisa, o secretário de Comunicação do governo, Roberto Izurieta, disse que a decisão de entrar na embaixada - uma ordem do presidente Noboa, segundo as duas autoridades do governo - foi tomada após "horas de uma discussão difícil". Ele também afirmou que a retórica de López Obrador agravou a situação.
Na sexta-feira, o governo do Equador declarou a embaixadora mexicana em Quito, Raquel Serur, "persona non grata" após o líder mexicano dizer que o assassinato do ex-candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio foi particularmente prejudicial a Luisa González, candidata derrotada por Noboa no ano passado.
Em sua entrevista coletiva diária ontem, o presidente mexicano atribuiu a invasão a uma combinação de inexperiência, má assessoria e busca de apoio interno por parte de Noboa. AMLO, como é conhecido, afirmou que um ataque como o feito à representação mexicana não foi cometido "nem mesmo pelo ditador chileno Augusto Pinochet".
Segundo ele, tratou-se de uma decisão "verdadeiramente autoritária" do jovem líder equatoriano, se referindo ao presidente Noboa, de 36 anos.
Desde a invasão, o governo conservador do Equador está enfrentando uma onda de crítica de países e organismos internacionais. EUA, governos da América Latina e da Europa e grupos regionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) consideraram as ações uma violação das normas internacionais.
Segundo a imprensa local, na prisão de segurança máxima para onde foi levado, Glas teria tentando suicídio ontem com uma overdose de medicamentos e foi levado para um hospital. Mais tarde, em comunicado, o serviço penitenciário disse que ele foi internado por se recusar a comer.
Disputa
López Obrador também vinculou a incursão policial a uma disputa interna entre diversos setores políticos do Equador e o ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), exilado na Bélgica após ser condenado em seu país por corrupção.
Glas, ex-vice e aliado de Correa, já cumpriu pena pelo escândalo de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht e, em dezembro, buscou refúgio na embaixada mexicana em Quito para evitar um mandado de prisão por outro caso, no qual é acusado de peculato.
"Há um confronto interno e isso os leva a tomar uma medida deste tipo, mas sem dimensionar a repercussão para o seu povo, o Equador e os países do mundo", disse AMLO.
Na mesma entrevista, a chanceler Alicia Bárcena disse que o México estava preparando uma denúncia que seria apresentada à Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra o Equador por desrespeitar as convenções internacionais.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.