Senado americano questiona segurança de aviões da Boeing Reprodução
"Não estou aqui porque quero estar aqui. Estou aqui porque [...] não quero ver o acidente de um 787 ou de um 777", declarou aos senadores Sam Salehpour, engenheiro de controle de qualidade na Boeing há 17 anos.
"Tenho sérias preocupações com a segurança do 787 e estou disposto a assumir um risco profissional ao falar", afirmou.
"Fui ameaçado, me disseram para ficar calado, recebi ameaças físicas", contou o engenheiro. "Se algo me acontecer, estarei em paz, porque acredito que testemunhando abertamente vou salvar muitas vidas", acrescentou.
Um e-mail enviado pelos advogados de Salehpour a vários destinatários, entre eles a Administração Federal de Aviação (FAA) dos Estados Unidos, é o ponto de partida para a investigação no Congresso.
A audiência desta quarta durou quase duas horas e será seguida por outras, com responsáveis da Boeing e da FAA chamados para depor, disse o senador democrata Richard Blumenthal, presidente da comissão, que apontou que há acusações "cada vez mais graves" indicando que a "cultura de segurança na Boeing está quebrada".
Boeing se defende
"Sabemos que temos trabalho a fazer", reconheceu a empresa após a audiência. "Continuamos colocando a segurança e a qualidade acima de tudo", acrescentou.
A Boeing rejeita as acusações e, na segunda-feira, defendeu seus métodos ao declarar-se "confiante na segurança e durabilidade dos 787 e 777", em um documento assinado por dois de seus principais engenheiros.
Mais depoimentos
"Fiz tudo o que pude para alertar o mundo de que o MAX não era seguro e para alertar as autoridades sobre os perigos da produção da Boeing", explicou Pierson. Mas "nada mudou após os dois acidentes".
Os 737 MAX foram mantidos em solo em todo o mundo após os acidentes de dois aviões desse modelo em 2018 e 2019, que resultaram em 346 mortes, devido a defeitos de concepção.
"A menos que seja tomada uma ação e que os executivos assumam suas responsabilidades, cada pessoa que embarcar em um Boeing está em risco", segundo Pierson, que considerou a supervisão da FAA "ineficaz".
O senador Blumenthal havia pedido ao Departamento de Justiça que verificasse se a Boeing estava cumprindo o acordo firmado em 2021 para evitar um julgamento pelos dois acidentes.
Em seu e-mail de 17 de janeiro, Salehpour afirmou que o fabricante "repetidamente ignorou sérias preocupações quanto à segurança e ao controle de qualidade na construção dos 787 e 777".
Em seguida, a FAA abriu uma investigação sobre esses dois modelos. "Investigamos os informes a fundo", reiterou a entidade na terça-feira.
Segundo a FAA, todos os Dreamliner em operação "cumprem com as AD", as diretrizes de navegabilidade.
A Boeing afirmou nesta quarta que o 787 realizou mais de 4,2 milhões de voos com segurança.
"Testes extensivos e rigorosos com a fuselagem e check-ups profundos de manutenção de cerca de 700 aeronaves em operação encontraram zero evidência de fadiga na fuselagem", argumentou a companhia.
Scott Kirby, presidente da companhia aérea United Airlines, que possui 71 Dreamliners, afirmou nesta quarta-feira à CNBC que tem "total confiança na segurança" deste avião.
"Milhares destes aviões voam há décadas, milhões de horas de voo", enfatizou.
Sob a lupa
A FAA investiga a família do 737, o principal avião da Boeing, depois que um 737 MAX 9 da Alaska Airlines perdeu uma porta cega em pleno voo em 5 de janeiro.
O incidente da Alaska Airlines ocorreu em meio a uma série de problemas com a produção, em 2023, relativos ao 737 MAX e ao Dreamliner.
As entregas do Dreamliner foram suspensas por quase dois anos, em 2021 e 2022, e novamente no início de 2023, devido a um problema na fuselagem.
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