Presidente ultraliberal Javier MileiAFP
Milei anuncia 1º trimestre de superávit financeiro na Argentina desde 2008
Setor público registrou em março um superávit financeiro de mais de 275 bilhões de pesos (R$ 1,60 bilhão, na taxa oficial de câmbio)
O presidente Javier Milei comemorou nesta segunda-feira (22) como uma "façanha histórica" o primeiro trimestre com superávit financeiro que a Argentina registra desde 2008 e advertiu a população que não espere uma saída da recessão "de mãos dadas com os gastos públicos".
O setor público registrou em março um superávit financeiro de mais de 275 bilhões de pesos (US$ 309 milhões dólares, R$ 1,60 bilhão, na taxa oficial de câmbio), "conseguindo, assim, e depois de mais de quase 20 anos, um superávit financeiro de 0,2% do PIB durante o primeiro trimestre do ano", disse Milei em rede nacional.
"É o primeiro trimestre com superávit financeiro desde o ano de 2008", prosseguiu, referindo-se ao primeiro ano de governo de sua rival política, Cristina Kirchner.
Ter conseguido isso "em apenas três meses de governo é simplesmente uma façanha de proporções históricas a nível mundial", estimou Milei.
O presidente assumiu em dezembro determinado a reduzir a zero o déficit fiscal, uma meta mais ambiciosa do que a imposta pelo próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual a Argentina tem um acordo de crédito de US$ 44 bilhões (R$ 229 bilhões).
Para isso, ele empreendeu um draconiano ajuste que inclui, entre outros, a paralisação de obras públicas, demissões de funcionários, fechamento de dependências do governo, corte de subsídios, aumento de tarifas públicas e o congelamento de orçamentos em momentos em que a inflação beira os 290% ao ano e a pobreza afeta metade da população.
"Se o Estado não gastar mais do que arrecada e não recorrer à emissão, não há inflação. Não é mágica", expressou Milei, um economista ultraliberal que se define como "anarcocapitalista".
O economista Carlos Melconian, crítico do governo, disse nesta segunda-feira aos jornalistas que é necessário analisar "como continuar a história, porque o mecanismo pelo qual foram encontrados números positivos é difícil de sustentar ao longo do tempo".
A atividade econômica da Argentina caiu -4,5% em dezembro em relação ao ano anterior e -4,3% em janeiro, segundo o instituto de estatísticas estatal. Nesta terça-feira será divulgado o número de fevereiro, que os analistas esperam que seja igualmente elevado.
A universidade pública, um dos setores mais afetados pelo ajuste, convocou uma manifestação para terça-feira que se antecipa como massiva em protesto pela atualização de seu orçamento, sem a qual - afirmam suas autoridades - a instituição não poderá funcionar além dos próximos dois ou três meses.
"Não esperem a saída de mãos dadas com os gastos públicos", alertou o presidente, sem se referir diretamente a este conflito. "A era do suposto Estado presente acabou".
Ele não se referiu às negociações em curso com o FMI nem a uma eventual saída do complexo controle cambial argentino, que, segundo o presidente, poderia ser liberado este ano se um empréstimo adicional de US$ 15 bilhões (R$ 78 bilhões) fosse obtido.
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