Marcha em protesto contra o ajuste orçamentário das universidades públicas AFP
Entre 100 mil pessoas, segundo a polícia, e meio milhão, segundo a Universidade de Buenos Aires (UBA), reuniram-se na capital argentina. Outras dezenas de milhares protestaram em cidades do interior.
A Praça de Maio foi o epicentro da convocação, que tomou as ruas vizinhas. “A educação nos salva e nos torna livres. Convocamos a sociedade argentina a defendê-la", disse a estudante e presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández.
Nas principais cidades do país, alunos e professores das 57 universidades nacionais públicas saíram em passeata “em defesa do ensino universitário público gratuito”.
As universidades declararam emergência orçamentária depois que o governo decidiu estender a este ano o mesmo orçamento recebido em 2023, apesar da inflação em 12 meses, que atingiu quase 290% em março.
"Não esperem a saída por meio do gasto público", alertou Milei ontem, ao anunciar em rede nacional que as contas públicas registraram superávit no primeiro trimestre, embora às custas de milhares de demissões e do colapso da atividade econômica e do consumo.
Sindicatos e partidos de oposição aderiram ao chamado, e os professores universitários acompanharam com uma greve.
Na cidade de Córdoba, sede da prestigiosa universidade homônima, dezenas de milhares de estudantes também lotaram as ruas.
Abaixo da linha da pobreza
As despesas de funcionamento excluem os salários do corpo docente, que representam 90% do orçamento universitário.
"Das quatro categorias de professores, três caíram abaixo da linha da pobreza", disse o reitor da Universidade Nacional de San Luis, Víctor Moriñigo, ao relatar uma escala salarial docente cujo piso é de 100 mil pesos (587 reais) por mês. Além disso, as tarifas de energia subiram 500% neste mês, deixando as universidades à beira da paralisia, segundo autoridades.
"No ritmo em que nos estão dando dinheiro, só poderemos funcionar por dois a três meses", advertiu o reitor da UBA, Ricardo Gelpi.
Milei questionou a transparência do uso dos fundos e a qualidade do ensino, ao sugerir que as universidades públicas "são usadas para negócios obscuros e doutrinação", publicou no X no fim de semana.
"Não podemos colocar em dúvida 200 anos de história. Mesmo com um orçamento muito baixo, a UBA está entre as três melhores da América Latina", observou o decano da Faculdade de Medicina, Luis Brusco.
Cerca de 2,2 milhões de pessoas estudam no sistema universitário público argentino, escolhido por 80% dos estudantes em comparação com as instituições privadas, em um país onde quase metade dos 47 milhões de habitantes vivem na pobreza.
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