Líderes do partido de extrema-direita da Alemanha após assessor de um membro do Parlamento Europeu ter sido preso Odd ANDERSEN / AFP

A Justiça alemã anunciou, nesta terça-feira (23), a detenção de um suposto agente chinês no Parlamento Europeu, aumentando os receios sobre espionagem por parte de Pequim antes das eleições europeias de junho e sobre questões estratégicas.

O anúncio surge um dia depois da detenção de outros três cidadãos alemães, também acusados de espionagem para a China, e da acusação de dois homens em Londres por suspeitas semelhantes.

O último detido, identificado como Jian G., é acusado de espionar opositores chineses e de ter compartilhado informações sobre o Parlamento Europeu com um serviço de inteligência chinês, segundo o comunicado do Ministério Público federal alemão.

Segundo o site do Parlamento Europeu, Jian Guo faz parte da lista de assistentes credenciados do eurodeputado Maximilian Krah, cabeça de lista do partido alemão de extrema direita AfD nas próximas eleições europeias, em 9 de junho.

É um cidadão alemão que trabalha como assistente de Krah em Bruxelas desde 2019.

Após o anúncio da detenção, e "tendo em conta a gravidade das revelações", o Parlamento Europeu decidiu suspendê-lo imediatamente do cargo.

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, classificou a prisão como "extremamente grave". "Se for confirmado que os serviços de inteligência chineses espionaram o Parlamento Europeu de dentro, seria um ataque contra a democracia europeia", disse.

O grupo de ambientalistas exigiu uma rápida investigação deste "Chinagate", segundo seus próprios termos, para que os primeiros resultados sejam publicados antes das eleições.

"Autocracias como a China ou a Rússia buscam ativamente minar as nossas democracias na Europa. Isso tem que parar", denunciou a deputada Terry Reintke.

'Preocupante'
Pequim nega as acusações.

"A teoria da ameaça de uma suposta espionagem chinesa não é novidade na opinião pública europeia", declarou um porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.

Na sua opinião, o objetivo desta estratégia é "difamar" o seu país e "destruir o clima de cooperação entre China e Europa".

Segundo a Justiça alemã, "o acusado forneceu informações em diversas ocasiões em janeiro de 2024 sobre as negociações e decisões do Parlamento Europeu ao seu cliente do serviço de inteligência".

O suspeito, que vive entre Bruxelas e Dresden, foi detido na segunda-feira nesta cidade do leste da Alemanha. Sua casa foi revistada.

Esta detenção representa um novo revés para o AfD, um partido antieuropeu e anti-imigração, atualmente na segunda posição depois dos conservadores, segundo várias pesquisas, mas cuja popularidade foi abalada por outras polêmicas.

Os relatos sobre a prisão do assistente de Krah são "muito preocupantes", disse o partido.

"Soube da detenção do meu colaborador Jian Guo esta manhã através da imprensa. Não tenho outras informações", disse Krah em um comunicado enviado à AFP, acrescentando que encerraria a colaboração se "as acusações forem fundamentadas".

O deputado controverso também esteve no centro de outro escândalo, segundo o qual vários legisladores europeus aceitaram dinheiro para divulgar posições pró-Rússia em um site de informação financiado por Moscou.

No Reino Unido, a polícia anunciou na segunda-feira a acusação de dois homens, de 29 e 32 anos, suspeitos de espionagem para a China entre o final de 2021 e fevereiro de 2023.

Christopher Cash e Christopher Berry são acusados de obter, coletar, registrar, publicar e comunicar documentos ou informações "que se acredita serem direta ou indiretamente úteis a um inimigo", segundo a Scotland Yard.

Segundo a imprensa alemã, os dois casos não estão ligados.