Tanques israelenses posicionados perto de RafahDivulgação / Exército de Israel / AFP
Na quinta-feira (9), uma rodada de negociações indiretas terminou sem acordo no Cairo, onde os mediadores buscavam uma trégua entre Israel e o movimento islamista palestino após sete meses de guerra.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou suspender o envio de alguns armamentos a Israel caso o país inicie uma grande ofensiva contra Rafah.
"Se precisarmos ficar sozinhos, ficaremos. Como já havia afirmado, se for necessário, vamos combater com unhas e dentes", respondeu o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Equipes da AFP observaram disparos de artilharia israelense contra Rafah na madrugada de sexta-feira. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que uma ofensiva terrestre israelense em Rafah provocaria uma "catástrofe humanitária épica".
"Estamos trabalhando ativamente com todas as partes envolvidas para retomar a entrada de suprimentos vitais – incluindo combustível – através das passagens de fronteira de Rafah e Kerem Shalom", disse Guterres.
A ONU afirmou que mais de 100.000 pessoas fugiram desta cidade Rafah, no extremo sul de Gaza, para procurar refúgio em outras áreas do território desde segunda-feira, quando Israel ordenou a evacuação da zona leste da localidade.
"Quase 30.000 pessoas fogem da cidade a cada dia", afirmou o diretor do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) para Gaza, Georgios Petropoulos.
Petropoulos explicou que "a maioria destas pessoas teve que se deslocar cinco ou seis vezes" desde o início, em outubro, do conflito entre Israel e Hamas, que governa Gaza desde 2007. Algumas pessoas caminham até Khan Yunis, uma cidade em ruínas que fica alguns quilômetros ao norte, enquanto outras não sabem para onde seguir.
"Os tanques, a artilharia e o barulho dos bombardeios são incessantes. As pessoas estão com medo e querem procurar um lugar seguro", declarou à AFP Abdel Rahman, um deslocado. Testemunhas também relataram bombardeios e combates na Cidade de Gaza, no norte do território palestino.
Ações humanitárias paralisadas
Israel executa desde terça-feira incursões no leste de Rafah e tomou o controle da passagem de fronteira com o Egito, crucial para a entrada de ajuda humanitária.
O Exército israelense afirmou que prossegue com a "operação antiterrorista limitada" em algumas áreas de Rafah.
Agências da ONU alertaram para as consequências do fechamento da passagem de Rafah, por onde entrava todo o combustível utilizado em Gaza, e da passagem de Kerem Shalom, reaberta na quarta-feira após três dias de bloqueio.
"Não há reservas de combustível em Gaza, o que significa que não há movimento. Isto paralisa completamente as operações humanitárias", declarou Andrea de Domenico, diretora da OCHA nos Territórios Palestinos.
A diretora do Unicef, Catherine Russell, destacou que se a entrada de combustível não for permitida, "as consequências serão sentidas quase imediatamente".
"As incubadoras para bebês prematuros ficarão sem energia elétrica, crianças e famílias ficarão desidratadas ou consumirão água imprópria e os esgotos transbordarão, propagando doenças", disse.
A 'bola' do lado de Israel
Os milicianos islamistas também sequestraram mais de 250 pessoas no ataque. Após a troca de reféns por prisioneiros palestinos em uma trégua em novembro, 128 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais acredita-se que 36 morreram, segundo as autoridades de Israel.
Em retaliação, Israel iniciou uma ofensiva que já deixou 34.904 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
Nos últimos dois dias, os países mediadores nas negociações (Catar, Egito e Estados Unidos) tentaram concretizar um pacto que permitiria a libertação de reféns israelenses e evitaria um ataque a Rafah.
Porém, o movimento islamista, que aceitou na segunda-feira a proposta apresentada pelos mediadores, afirmou em uma carta a outros grupos palestinos que Israel rejeitou a oferta.
"Consequentemente, a bola está agora totalmente com a ocupação", afirma o texto do Hamas, grupo considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.
Pedido de 'flexibilidade'
Segundo uma fonte do movimento palestino, a última proposta estabelecia uma trégua de três fases, cada uma delas com 42 dias de duração.
Também incluía a retirada de Israel de Gaza e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos, visando um "cessar-fogo permanente".
Mas Israel respondeu que a oferta estava "longe das suas exigências" e reiterou sua oposição a um cessar-fogo permanente antes de uma vitória contra o grupo islamista.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.