Michel Nisenbaum foi contactado pela última vez em 7 de outubroReprodução/redes sociais

O corpo do brasileiro Michel Nisenbaum, 59, feito refém pelos terroristas do Hamas e encontrado na semana passada, foi enterrado neste domingo, 26, em Ashkelon, em Israel, cidade próxima da fronteira com a Faixa de Gaza.
Segundo o jornal The Times of Israel, centenas de pessoas participaram do funeral. Sua filha Chen destacou que o pai foi "heroico" e salvou vidas no dia dos ataques, em 7 de outubro do ano passado.
"As crianças vão crescer e se lembrar que avô heroico que você era, que não teve medo dos terroristas e salvou pessoas no caminho. Graças a você, elas estão aqui. Eu te amo e sinto a sua falta. Agora, você está em casa", disse, segundo o site de notícias Ynet. "A partir do segundo em que os terroristas atenderam o seu telefone, eu sabia que a vida não seria a mesma", completou.
O Exército israelense anunciou na sexta-feira, 24, a morte de Nisenbaum, assassinado no sul de Israel. Seu corpo foi levado para a Gaza e retornou a Israel após uma operação das Forças de Defesa do país, que também recuperou os restos mortais do franco-mexicano Orión Hernández Radoux e do israelense Hanan Yablonka.
O brasileiro natural de Niterói deixa duas filhas e seis netos. Nisenbaum trabalhava como guia turístico em Israel, mas também exerceu funções como motorista, entregador e prestador de serviços de informática.
Ele se mudou para Israel com apenas 12 anos e formou família no país. Na manhã do dia 7 de outubro, o brasileiro saiu de sua casa em Sderot, cidade próxima à fronteira com o enclave palestino, para buscar a sua neta de 4 anos que estava em uma base militar no sul de Israel.
Contudo, o brasileiro não chegou ao local e não atendeu mais o telefone. No caminho, ligou para as autoridades israelenses avisando sobre a presença de terroristas próximos.
Após diversas ligações de sua filha, Hen Mahluf, um terrorista do Hamas atendeu o celular e passou a falar em árabe, depois gritou a palavra Hamas e desligou.
Desde então, os familiares do brasileiro não sabiam mais nada sobre o seu paradeiro. Seu carro foi encontrado incinerado em uma estrada no sul de Israel, e o computador do brasileiro estava em Gaza. Ele era considerado um dos reféns israelenses que estavam vivos. Mais de 100 sequestrados israelenses continuam no enclave palestino.
Família
O Itamaraty reconheceu o desaparecimento do brasileiro em 21 de outubro, segundo nota enviada ao Estadão. A chancelaria brasileira apontou que a família de Nisenbaum comunicou o ocorrido para a embaixada do Brasil em Tel-Aviv antes de o governo israelense reconhecer que o brasileiro estava entre os sequestrados.
O embaixador do Brasil em Israel, Frederico Mayer, só se encontrou com Mary Shohat, irmã de Michel Nisenbaum, em 30 de novembro, após as autoridades israelenses informarem a situação do brasileiro para a embaixada.
A filha de Nisenbaum, Hen Mahluf, e a irmã do brasileiro, Mary Shohat, participaram de uma viagem ao lado de outros familiares de reféns sul-americanos em dezembro do ano passado. As famílias viajaram a Buenos Aires, para Montevidéu, Brasília e São Paulo, encontrando os presidentes da Argentina, Uruguai e Brasil.
Em Brasília, os familiares do brasileiro se encontraram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após intermediação do senador Jaques Wagner, que é judeu. Já na capital paulista, as famílias dos reféns participaram de eventos com autoridades e de uma coletiva de imprensa no clube Hebraica.
Em entrevista ao Estadão, Mary Shohat afirmou que esperava que a visita fizesse alguma diferença para a libertação do irmão. Shohat também compartilhou informações sobre a vida de Nisenbaum e o seu processo de imigração para Israel.
"Eu nasci em Porto Alegre e o Michel nasceu em Niterói, nós somos meio irmãos. Eu vim para Israel com 16 anos, quase 17, sozinha. Gostei muito do país e decidi me mudar. Assim que eu cheguei em Israel, recebi uma carta da nossa família no Brasil que o Michel, que na época tinha 12 anos, estava envolvido com um grupo de delinquentes em Porto Alegre, que era onde ele morava e então eu voltei ao Brasil, conversei com a nossa família e decidimos que ele iria para Israel morar comigo", afirmou a irmã de Nisenbaum.
Shohat apontou que seu último contato com o irmão havia sido em 5 de outubro, dois dias antes do ataque terrorista do Hamas, quando os dois tomaram café ao lado da mãe, de 87 anos.