Quase dois em cada cinco (38%) participantes relataram não ter ninguém para dar suporte no seu papel de pai/mãeFreepik
A gerente de marketing e comunicação digital Leticia Ueoka, de 45 anos, é um exemplo. Ela mora em Niagara Falls, uma cidade a 130 quilômetros de Toronto, no Canadá, com o marido e dois filhos, Antonio, de 11 anos, e Valentina, de 5. Na empresa em que é contratada, todos trabalham presencialmente, mas, por ter se mudado de cidade, Leticia atua em um esquema híbrido.
Além de vivenciar a solidão ligada à maternidade, ela relata sentir falta de uma relação mais próxima com os colegas de trabalho. O fato de ser imigrante, nesse contexto, é mais um grande desafio. "Sinto não ter mais por perto minha rede de apoio, formada pela minha família. Quando preciso de alguma ajuda extra, tenho que acabar recorrendo a vizinhos", conta a gerente.
Para encontrar um pouco de alívio, Leticia planeja realizar pausas na rotina para conversar com amigas que vivem situações semelhantes. "Me sinto acolhida, pois vejo que não sou a única que passa por isso", diz.
"Entretanto, devido à maior participação da mulher no mercado de trabalho, isso se perdeu um pouco hoje em dia, já que tia, mãe e vizinha, que costumavam ajudar, agora também têm sua rotina profissional", observa. A psiquiatra ainda nota que, atualmente, as pessoas estão morando mais longe umas das outras.
"As pessoas ficam muito sozinhas física e emocionalmente nessa fase, que é permeada por muita insegurança e dúvidas. É um período também no qual elas têm que abrir mão de muitas coisas na vida, o que é uma pena, pois, quanto mais a gente tiver com quem trocar, melhor", diz Danielle.
A pandemia tumultuou ainda mais esse quadro, já que as pessoas passaram a ficar muito tempo em casa e uma boa parcela começou a trabalhar exclusivamente de forma remota. "Assim, não almoçam com os colegas ou conversam com alguém na hora do cafezinho, por exemplo, o que faz com que não haja a troca pessoal, que é fundamental para os seres humanos. Isso dificulta os relacionamentos, especialmente nesse momento de fragilidade", afirma Danielle.
Além disso, nesse esquema de dia a dia, os pais têm mais dificuldade ainda de se desconectar mentalmente da rotina da casa, pois precisam lidar com suas responsabilidades profissionais e familiares simultaneamente, o que resulta em mais sobrecarga.
De acordo com as especialistas, todos esses fatores têm impacto muito grande sobre a saúde mental e emocional dos pais, mas, em especial, das mães. Afinal, muitas vezes são elas que mais acumulam tarefas e abrem mais mão das suas necessidades para cuidar da criança. Fora todo o cansaço e a falta de sono, sentem frustração, irritação, ansiedade, tristeza e até mesmo raiva, o que as prejudica em todos os seus papéis - de mulher casada, amiga, profissional e, como não poderia deixar de ser, mãe.
Se todas essas questões não forem trabalhadas adequadamente, podem causar problemas no emprego, na relação com o parceiro, com o resto da família e também com os filhos, com os quais acabam não tendo muita paciência.
Importância da Troca
"Ter amigos com experiências semelhantes acaba sendo uma forma de aliviar essa angústia, pois, ao se reunirem, compartilham histórias do cotidiano com o objetivo comum de apoio mútuo", diz Monica.
Além do apoio em termos emocionais, esses grupos podem funcionar como uma rede de apoio para as necessidades práticas do dia a dia, permitindo que um ajude o outro quando necessário, mesmo com pequenas atitudes, como levar e buscar os filhos na escola ou contribuir com as refeições em um dia complicado. Dessa forma, todos ficam menos sobrecarregados e se sentem melhor, o que é essencial do ponto de vista individual e também pensando na criação dos filhos e na manutenção dos vínculos sociais.
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