Apoiadores da coligação Nova Frente Popular (NFP) se reúnem na véspera da eleição deste domingoAFP
A NFP obteria entre 172 e 215 dos 577 assentos da Assembleia Nacional (câmara baixa), seguida pela aliança governista com 150 a 180, e o partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados com 115 a 155, de acordo com quatro projeções diferentes.
Os resultados representam um revés para a líder de extrema direita Marine Le Pen, que falha em seu objetivo de alcançar a maioria absoluta, que as projeções consideravam possível há uma semana, e até mesmo em vencer, como parecia viável dois dias atrás.
"Nosso povo rejeitou claramente o pior cenário possível", declarou o líder esquerdista Jean-Luc Mélenchon, para quem a NFP, que não tem maioria absoluta, deve "governar", mas sem "iniciar negociações" com a aliança de Macron.
O presidente francês pediu "prudência" após serem divulgadas as primeiras estimativas e afirmou que sua aliança de centro-direita "segue muito viva". "A questão é quem governará daqui para frente e conseguirá uma maioria", acrescentou.
Os acordos tácitos entre o governo e a coalizão de esquerda, concentrando o voto no candidato com mais chances de derrotar o RN em cada circunscrição, frustraram a vitória ultradireitista.
Um governo do RN, com o jovem Jordan Bardella à frente, seria o primeiro de extrema direita na França desde a libertação da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial e um dos poucos na União Europeia.
Artistas, atletas, sindicatos e organizações mobilizaram-se para impedir a chegada ao poder da extrema direita, como o astro do futebol Kylian Mbappé, que havia convocado para votar "do lado certo" nestas eleições tensas.
Diante de possíveis "distúrbios", as autoridades anunciaram o desdobramento de 30.000 policiais e gendarmes na noite deste domingo (7), 5.000 deles em Paris.
Mas os resultados também representam um golpe para o presidente de 46 anos, que perde a maioria simples que detinha desde 2022 e terá que compartilhar o poder com um governo que não controlará. O segundo mandato de Macron termina em 2027.
Cenários
Macron antecipou as legislativas previstas para 2027 para pedir um "esclarecimento" político aos franceses, após a vitória do RN nas eleições europeias de 9 de junho, uma decisão "arriscada", segundo analistas.
A resposta dos eleitores foi reorganizar os três blocos surgidos das eleições de 2022 - esquerda, centro-direita e extrema direita -, com uma nova relação de forças e sem maiorias absolutas.
A menos de três semanas do início dos Jogos Olímpicos de Paris, a incerteza paira sobre a composição do próximo governo. O primeiro-ministro, Gabriel Attal, já indicou durante a campanha que seguirá "pelo tempo necessário".
Várias hipóteses emergem: uma improvável coalizão entre parte da esquerda e o governo, ou até mesmo um governo tecnocrata com apoio parlamentar na segunda maior economia da UE.
No entanto, uma coalizão eventual parece difícil devido às críticas mútuas entre o partido A França Insubmissa (LFI, esquerda radical), um importante parceiro da NFP, e o governo. Macron chegou a descrever este partido como "antiparlamentar" e "antissemita".
Uma alternativa ao LFI poderia ser integrar nesta coalizão os deputados de direita de Os Republicanos (LR) que não firmaram acordo com o RN. Seus possíveis 57 a 67 assentos poderiam ser cruciais para uma aliança parlamentar sem a esquerda radical.
O presidente francês se reuniu com o primeiro-ministro e seus aliados durante a tarde, antes de os primeiros resultados serem conhecidos, informaram fontes de sua aliança.
Os primeiros acordos poderiam ser feitos a partir de 18 de julho, quando os novos deputados devem escolher a presidência da Assembleia Nacional e os principais cargos da câmara baixa.
Tanto aliados quanto rivais da França no cenário internacional acompanharam de perto estas eleições, especialmente no momento em que Paris, uma potência nuclear, é um dos motores da UE e um dos principais apoios da Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Em visita à cidade italiana de Trieste, o papa Francisco advertiu neste domingo contra "tentações ideológicas e populistas", sem mencionar nenhum país em particular.
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