Volodimir Zelensky, presidente da UcrâniaSergei Supinsky / AFP

A Rússia reagiu com cautela nesta terça-feira (16) ao convite do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, para uma futura cúpula de paz sobre o conflito na Ucrânia e afirmou que precisa de mais detalhes.

Zelensky afirmou na segunda-feira (15) que a Rússia deveria estar representada em uma segunda cúpula sobre o conflito na Ucrânia, após uma primeira reunião internacional na Suíça no mês passado, que não teve a participação de Moscou.

"A primeira cúpula da paz não foi uma cúpula da paz de nenhuma maneira. Então, talvez seja necessário entender primeiro o que ele quer dizer", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ao canal de notícias Zvezda, ao comentar a declaração de Zelensky.

As palavras do presidente ucraniano representam uma mudança de tom a respeito da conferência na Suíça, quando ele descartou de maneira categórica um convite à Rússia.

No dia 15 de junho, líderes e funcionários de alto escalão de mais de 90 nações se reuniram em Bürgenstock, na Suíça, para um encontro de dois dias sobre a guerra na Ucrânia, mas sem a presença de representantes da Rússia e da China.

Rússia e Ucrânia têm posições muito distantes sobre um possível acordo de paz para acabar com o conflito, que começou há mais de dois anos.

Moscou insiste que deve manter todo o território que ocupa atualmente, quase 20% do país, enquanto Kiev exige que todos os soldados russos se retirem das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia, incluindo a península da Crimeia, que a Rússia anexou em 2014.

Temor de conflito prolongado
O governo dos Estados Unidos apoiou na segunda-feira a decisão da Ucrânia de convidar a Rússia para uma segunda reunião de cúpula, mas expressou dúvidas sobre se Moscou está pronto para conversações de paz.

"Se querem convidar a Rússia para esta cúpula, é claro que isso é algo que apoiamos", disse o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller.

"Sempre apoiamos a diplomacia quando a Ucrânia está preparada, mas nunca ficou claro que o Kremlin esteja pronto para uma diplomacia real", acrescentou.

Antes da reunião na Suíça, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que estava aberto a uma negociação e que anunciaria um cessar-fogo imediato se a Ucrânia entregasse o território que Moscou reivindica como seu.

Zelensky criticou as demandas de Putin como um "ultimato" territorial que comparou aos de Adolf Hitler. Os aliados ocidentais da Ucrânia, incluindo Estados Unidos, também criticaram as declarações.

A Ucrânia, no entanto, teme cada vez mais a extensão do conflito, em particular devido aos recentes avanços da Rússia e à possível vitória do ex-presidente republicano Donald Trump nas eleições americanas de novembro.

Zelensky disse na segunda-feira que "não estava preocupado" com a vitória de Trump nas eleições presidenciais e que ainda conta com o apoio dos Estados Unidos, o maior apoio financeiro e militar da Ucrânia.

O candidato republicano deu a entender que conseguiria acabar rapidamente com o conflito em caso de retorno à presidência, uma promessa que a Ucrânia teme que signifique ser forçada a negociar com a Rússia a partir de uma posição enfraquecida.

Segundo o diretor do Centro Carnegie Rússia Eurásia, Alexander Gabuev, Moscou não tem incentivos para participar de conferências de paz porque está avançando no front, embora lentamente.

"A Rússia tentará utilizar esta janela enquanto continuar aberta. É pouco provável que todas as declarações ucranianas resultem em mudanças práticas na diplomacia", disse à AFP.