Funeral foi lotado por apoiadores e fãs de Ismail Haniyeh AFP

Milhares de pessoas pediram vingança nesta quinta-feira (1º) durante o funeral em Teerã do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, assassinado na quarta-feira (31) em um ataque na capital iraniana atribuído a Israel.

Com bandeiras palestinas e fotos de Haniyeh, milhares de iranianos se reuniram na Universidade de Teerã no início da procissão funerária do líder islamista, que será enterrado na sexta-feira em Doha.

O responsável por comandar as orações por Haniyeh foi o líder supremo da República Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei, que ameaçou infligir um "castigo duro" a Israel pelo assassinato.

A morte foi anunciada na quarta-feira pela Guarda Revolucionária do Irã, que relatou um ataque durante a madrugada em Teerã que matou o líder do movimento islamista palestino e um de seus guarda-costas.

Horas antes, um bombardeio israelense na capital do Líbano, Beirute, matou o comandante militar do grupo pró-Irã Hezbollah, Fuad Shukr, o que aumenta o temor de uma propagação do conflito em toda região devido ao conflito em Gaza.

Khamenei, que tem a última palavra nas questões políticas do Irã, disse que é "dever" do país "buscar vingança" pelo assassinato de Haniyeh no território da República Islâmica.

O líder do Hamas viajou a Teerã na terça-feira para a cerimônia de posse do novo presidente iraniano, Masud Pezeshkian, que prometeu que "os sionistas verão em breve as consequências de seu ato terrorista e covarde".
Pessoas pediam por vingança durante o funeral de Ismail Haniyeh - AFP
Pessoas pediam por vingança durante o funeral de Ismail HaniyehAFP


'Perseguiremos Israel'
A exibição do funeral na televisão estatal iraniana exibiu os caixões de Haniyeh e de seu segurança cobertos com bandeiras palestinas. Antes, os caixões foram transportados em um veículo pelas ruas de Teerã.

A cerimônia contou com a presença de personalidades iranianas de alto escalão, como o presidente Pezeshkian e o comandante da Guarda Revolucionária, o general Hosein Salami.

O ministro das Relações Exteriores do Hamas, Khalil Al Hayya, afirmou durante a cerimônia que "o slogan de Ismail Haniyeh ('Não reconheceremos Israel') permanecerá como um slogan imortal". "Perseguiremos Israel até arrancá-lo da terra da Palestina", disse.

O presidente do Parlamento iraniano, o conservador Mohammad Bagher Ghalibaf, afirmou que o país "cumprirá a ordem do líder supremo" de vingar Haniyeh.

"É nosso dever responder no momento e local adequados", declarou em seu discurso, enquanto a multidão gritava: "Morte a Israel, morte à América!". A comunidade internacional, no entanto, pediu calma e a continuidade dos esforços para alcançar um cessar-fogo em Gaza.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, alertou que os ataques em Teerã e Beirute representam uma "escalada perigosa em um momento no qual todos os esforços deveriam levar a um cessar-fogo em Gaza".

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu nesta quinta-feira a "todas as partes" no Oriente Médio que "dialoguem" e "cessem qualquer ação que contribua para uma escalada".

Mediação questionada
A República Islâmica não revelou o local exato do ataque. Israel, acusado por Irã e pelo Hamas, não se pronunciou sobre a morte de Haniyeh. O país reivindicou o ataque que matou Shukr, em resposta aos foguetes disparados contra as Colinas de Golã anexadas.

As mortes agravam as tensões regionais devido à guerra em Gaza, que intensificou as hostilidades entre Israel e grupos armados alinhados com o Irã na Síria, Líbano, Iraque e Iêmen. Também colocam em risco as negociações indiretas para uma trégua e a libertação de reféns entre o Hamas e Israel, com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos.

Analista afirmaram à AFP que Haniyeh era uma figura moderada dentro do movimento islamista e que, embora possa ser substituído, as dinâmicas dentro do Hamas podem mudar.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu destruir o grupo em represália pelo ataque de 7 de outubro, que iniciou a guerra em Gaza. O ataque matou 1.197 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais divulgados pelas autoridades de Israel.

Os combatentes islamistas também sequestraram 251 pessoas. Segundo o Exército israelense, 111 permanecem em cativeiro em Gaza, mas 39 teriam sido mortas.

A campanha militar israelense em Gaza matou ao menos 39.480 pessoas, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas. Meses de negociações permitiram apenas uma breve trégua de uma semana em novembro. Após a morte de Haniyeh, o Qatar, crucial na mediação, questionou o futuro das conversações.

"Como a mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador da outra parte?", questionou na rede social X o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman al Thani.