María Corina Machado AFP
Machado reivindica uma vitória esmagadora para seu candidato, o diplomata Edmundo González Urrutia, e afirma ter provas para demonstrar o que considera ser um roubo nas eleições. Os dois apareceram em público pela última vez na terça-feira, em uma concentração que reuniu milhares de pessoas em Caracas.
"Escrevo isso a partir da clandestinidade, temendo pela minha vida, pela minha liberdade", expressou Machado em um artigo de opinião no Wall Street Journal. Uma fonte opositora disse à AFP que Machado "está em segurança" e que pretende se dirigir ao país ainda nesta quinta-feira.
Protestos eclodiram em Caracas e outras cidades após a proclamação da vitória de Maduro na segunda-feira, os quais deixaram 11 mortos até o momento, segundo ONGs de direitos humanos.
O Ministério Público relatou mais de 1.000 detenções.
Machado pediu pelo "cessar imediato da repressão" nos protestos para alcançar "um acordo urgente que facilite a transição para a democracia".
Já González Urrutia tem se mantido fora das redes sociais por quase 24 horas.
Maduro responsabilizou Machado e González Urrutia pela violência durante os protestos e disse que os opositores "deveriam estar atrás das grades". "Vocês têm as mãos sujas de sangue", declarou o presidente.
"Muito assédio"
Machado lançou um site com cópias das atas de votação que afirma provar a vitória da oposição, algo que chavismo chamou classificou como montagem. Maduro, por sua vez, pediu ao Supremo Tribunal que se pronuncie sobre as eleições e também disse ter evidências de sua reeleição.
Machado convocou uma mobilização na quarta-feira, sem fornecer maiores detalhes.
A oposição denunciou, durante os últimos meses da campanha, uma perseguição contra líderes antichavistas, com uma centena de detenções. "A maior parte de nossa equipe está escondida (...). Eu poderia ser capturada enquanto escrevo essas palavras", indicou Machado ao WSJ.
Seis dos colaboradores mais próximos da popular opositora, que não foi candidata após uma inabilitação política, estão abrigados na embaixada da Argentina, cuja proteção passou nesta quinta-feira ao Brasil, após a expulsão do pessoal diplomático argentino do país.
Nos últimos dias, a eletricidade foi cortada da representação argentina, segundo denúncias de opositores.
"Houve muito assédio à sede diplomática", disse aos jornalistas Pedro Urruchurtu, um dos refugiados. "Não cometemos nenhum crime e estamos protegidos porque estão nos perseguindo."
Medo de delações
"A vida está se normalizando, já há bastante gente na rua", indicou à AFP Reinaldo García, de 55 anos, no gigantesco bairro de Petare.
No entanto, o ambiente em geral é de temor. Em um edifício de um bairro de classe média, os vizinhos fazem sinais para se calar quando o assunto das eleições surge: temem ser delatados e presos.
Maduro ordenou um destacamento de segurança para evitar o que considerou um golpe de Estado por parte da oposição "fascista". O presidente até criou uma seção dentro de um aplicativo de programas sociais para denunciar "os criminosos que ameaçaram o povo" para "ir atrás deles, para que haja justiça".
As Forças Armadas, por sua vez, têm demonstrado sua posição de "absoluta lealdade e apoio incondicional" a Maduro, "legitimamente reeleito".
"Conversas constantes"
Machado disse em seu artigo que "cabe à comunidade internacional decidir se tolera ou não um governo comprovadamente ilegítimo".
Os governos do Brasil, Colômbia e México, três países governados por presidentes de esquerda próximos a Maduro, exigiram nesta quinta-feira que as autoridades da Venezuela avancem "de forma expedita" na divulgação das atas eleitorais e permitam uma "verificação imparcial dos resultados" das eleições presidenciais de 28 de julho.
"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", assinalaram os governos em comunicado conjunto.
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