Presidente Joe Biden durante discurso no primeiro dia da Convenção Nacional Democrata AFP
Biden, que desistiu de disputar a reeleição em julho, depois das críticas por sua idade avançada, não desperdiçou a oportunidade de falar sobre o tema.
O presidente foi recebido com gritos de "Nós amamos Joe!" e "Obrigado, Joe!" por milhares de democratas, que o aplaudiram de pé.
Apesar dos momentos nostálgicos em que resumiu meio século de vida política, o discurso de uma hora de Biden foi veemente, concentrado na luta que Harris e o partido têm pela frente contra o ex-presidente republicano Donald Trump nas eleições de novembro.
O presidente criticou diretamente Trump e pediu aos eleitores que escolham para comandar a Casa Branca "uma promotora, ao invés de um criminoso condenado", uma referência ao antigo cargo de Harris e ao veredicto emitido contra o magnata em Nova York em um dos processos judiciais contra ele.
"A democracia prevaleceu e agora a democracia precisa ser preservada", disse Biden, depois de acusar Trump de promover o ódio.
"Não há espaço nos Estados Unidos para a violência política", disse o presidente, que pediu aos democratas que continuem "avançando, e não retrocedendo". "Vocês não podem dizer que amam o país só quando ganham", afirmou Biden. "A democracia precisa ser preservada. Vocês me ouviram dizer isso antes, mas estamos em um momento de inflexão", acrescentou.
Emoção
"Ele passou o controle para uma promotora jovem e vibrante que está pronta para agir", afirmou Azziem Underwood, de Seattle. "Ele parecia bem, pensei 'por que ele se aposentou? Estava excelente hoje'", completou.
Algumas horas antes, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton emocionou os participantes da convenção com um discurso otimista. "Algo está acontecendo nos Estados Unidos. (...) Algo pelo qual trabalhamos e sonhamos há muito tempo", disse.
Mas a política, que perdeu as eleições presidenciais para Trump em 2016, alertou para o desafio das próximas semanas e pediu que todos "trabalhem mais duro do que nunca".
Hillary afirmou que é necessário impedir "os perigos que Trump e seus aliados representam" e disse que o republicano fez "seu próprio tipo de história: 'O primeiro candidato à presidência condenado por 34 acusações'". A plateia respondeu ao discurso aos gritos de "prendam ele".
Além dos elogios políticos, a convenção democrata abriu espaço para vozes a favor do acesso ao aborto, principal questão da plataforma de Kamala Harris, e uma pedra no sapato dos republicanos. "Donald Trump vai conhecer o poder das mulheres em 2024", afirmou Biden.
"Os crimes violentos caíram para o nível mais baixo em mais de 50 anos. E a criminalidade continuará diminuindo quando colocarmos uma promotora [Kamala] no Salão Oval, em vez de um criminoso condenado", disse Biden.
O presidente encerrou o discurso afirmando que cometeu muitos erros durante a carreira, mas que deu o seu melhor pelos Estados Unidos.
"Por 50 anos, como muitos de vocês, dei meu coração e alma a nossa nação e fui abençoado milhões de vezes em troca do apoio das pessoas", apontou.
"Kamala e Tim (Walz) vão proteger a assistência médica. Trump quer cortar o seguro social e a assistência médica. Kamala e Tim vão proteger a liberdade, vão proteger o seu direito ao voto, os direitos civis", disse.
O presidente também prometeu que ele e Kamala conseguiriam um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza para libertar os reféns que estão sob o poder do Hamas.
Gaza
Quase 30 delegados que integram o movimento "Não Comprometidos" chegaram ao evento incomodados com a posição do governo Biden-Harris a respeito da guerra em Gaza.
Asma Mohammed, delegada de Minnesota, disse que está decepcionada com a ausência de uma voz pró-palestina na convenção e teve uma opinião dissonante na despedida simbólica de Biden.
"Acho que o partido precisava de uma mudança. Não fico triste com a saída de alguém que apoiou descaradamente um regime genocida em Israel", disse.
O grupo é uma pequena minoria, considerando que o evento conta com quase 5 mil delegados, mas a causa faz barulho: quase mil pessoas protestaram na segunda-feira no centro de Chicago contra a represália de Israel contra o Hamas em Gaza, que deixou mais de 40 mil mortos.
Biden, surpreendentemente, reconheceu o descontentamento em seu discurso. "Os manifestantes nas ruas têm um ponto. Muitas pessoas inocentes estão morrendo nos dois lados", disse.
"Vamos continuar trabalhando para trazer os reféns para casa e acabar com a guerra em Gaza" entre Israel e o movimento islamista Hamas, prometeu.
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