Chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony BlinkenAFP

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu, nesta terça-feira (20), ao Hamas que aceite a última proposta americana de cessar-fogo na Faixa de Gaza, afirmando que o tempo está se esgotando após mais de dez meses de guerra com Israel no território palestino.

Blinken, que chegou na terça-feira ao Catar após sua passagem por Israel e Egito, assegurou aos jornalistas, antes de deixar o aeroporto de Doha, que o tempo "urge" para alcançar um cessar-fogo.

Ele acrescentou que os Estados Unidos se opõem a uma ocupação israelense "a longo prazo" de Gaza.

O Exército israelense anunciou nesta terça que recuperou na Faixa de Gaza os corpos de seis reféns sequestrados em 7 de outubro no sul do país, durante o ataque dos milicianos islamistas que desencadeou a guerra.

Nas últimas semanas, Israel e Hamas se acusaram mutuamente de bloquear um acordo por um cessar-fogo e pela troca de reféns por palestinos presos em Israel, o que poria fim a uma guerra que já deixou milhares de mortos no território palestino.

Blinken, que concluiu sua nona viagem ao Oriente Médio desde o início do conflito, se reuniu em Doha com o ministro de Estado do Catar, Mohammed bin Abdelaziz al-Kulaifi. No entanto, não se encontrou com o emir Tamim Bin Hamad al Thani, como estava previsto.

Antes, Blinken se encontrou na cidade egípcia de El Alamein com o presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, que defendeu um "cessar-fogo em Gaza".

O secretário de Estado americano avaliou na segunda-feira, após reuniões em Israel, que esta poderia ser "talvez a última oportunidade de trazer os reféns de volta para casa" e "obter um cessar-fogo".

Segundo Blinken, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, lhe "confirmou" que seu governo "aceita o plano de acordo" para um cessar-fogo apresentado por Washington e instou o Hamas a "fazer o mesmo".
"Luz verde" dos Estados Unidos
O presidente americano, Joe Biden, acusou o movimento islamista palestino de "se distanciar" das negociações.

O Hamas respondeu que essas declarações "não refletem a posição real do movimento, que deseja alcançar um acordo de cessar-fogo" e, ao contrário, dão a "luz verde americana" para Israel continuar com a guerra.

Na sexta-feira, após dois dias de conversações em Doha entre os negociadores israelenses e os países mediadores - Estados Unidos, Catar e Egito -, Washington anunciou uma nova proposta de acordo, que foi rejeitada pelo Hamas.

O grupo palestino acusou os Estados Unidos de incluírem "novas condições" de Israel no plano apresentado por Biden no final de maio.

Estas "novas condições" se referem principalmente à manutenção de suas tropas na fronteira de Gaza com o Egito e "um direito de veto" à inclusão de alguns presos palestinos que poderiam ser trocados pelos reféns nas mãos do Hamas.

Em declarações reportadas por familiares de reféns sequestrados pelo Hamas, Netanyahu afirmou que Israel insistirá em manter o controle do Corredor Filadélfia, como é chamada a faixa fronteiriça que separa Gaza do Egito.

Essas declarações foram criticadas por um funcionário americano da comitiva de Blinken.

"Declarações maximalistas como essas não são construtivas para alcançar um acordo de cessar-fogo", apontou o funcionário.

O Hamas aceitou em julho um plano apresentado por Biden no fim de maio e exige sua aplicação estrita.

Este plano prevê, em uma primeira fase, seis semanas de cessar-fogo durante as quais as tropas israelenses se retirariam das áreas densamente povoadas de Gaza e uma parte dos reféns sequestrados em 7 de outubro seria libertada.

Em uma segunda fase, as tropas israelenses se retirariam totalmente da Faixa de Gaza.

Seis corpos de reféns recuperados
O Exército de Israel anunciou nesta terça-feira que recuperou os corpos de seis reféns em uma operação conjunta com os serviços de inteligência.

O governo de Netanyahu "deve fazer o que estiver em suas mãos para concluir o acordo que está sobre a mesa", afirmou o Fórum das Famílias de Reféns.

Netanyahu insistiu em várias ocasiões que pretende continuar a guerra até a destruição do Hamas, que governa Gaza desde 2007.

No ataque de 7 de outubro, os militantes islamistas mataram 1.199 pessoas, em sua maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses.

Do total de sequestrados, 105 ainda estão em Gaza, embora 34 tenham sido declarados mortos pelo Exército israelense.

A ofensiva israelense em Gaza deixou pelo menos 40.173 mortos, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

Doze mortos em bombardeio contra uma escola
Na Faixa de Gaza, onde quase todos os 2,4 milhões de habitantes foram deslocados, os bombardeios israelenses prosseguem sem trégua.

A Defesa Civil de Gaza anunciou, nesta terça-feira, a morte de pelo menos sete palestinos em um bombardeio israelense contra uma escola que abriga deslocados na Cidade de Gaza, no norte do território. O Exército de Israel afirmou que efetuou um bombardeio "contra terroristas escondidos na escola".

Além do bombardeio israelense contra a escola da Cidade de Gaza, seis pessoas morreram em um ataque do Exército israelense em Rafah, no sul do território, segundo fontes médicas.

Para Washington, uma trégua em Gaza ajudaria a evitar um possível ataque do Irã e seus aliados - o movimento libanês Hezbollah, Hamas e os rebeldes huthis - contra Israel.

A República Islâmica do Irã ameaçou Israel após os assassinatos do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e do comandante militar do Hezbollah.