Nicolás Maduro, presidente da VenezuelaAFP
Em um país onde a liberdade de imprensa é restrita, Maduro ordenou a suspensão do X por 10 dias: o prazo terminou no domingo (18), mas a rede social continua inacessível sem VPN. O presidente também promove um boicote à plataforma de mensagens WhatsApp e acusa Instagram e Tik Tok de quererem atacá-lo.
"Fora Elon Musk e fora X da América Latina!", lançou na segunda-feira o presidente, que há meses critica o bilionário dono da rede social.
Maduro busca agora conter o protesto contra a sua reeleição, com gritos de fraude da oposição que rapidamente viralizaram.
Após a aprovação na semana passada de uma lei para supervisionar as ONGs, amplamente criticada pelos defensores dos direitos humanos, o governante chavista prometeu uma lei sobre as redes sociais para os próximos dias.
"Esta é uma escalada no sistema de censura", disse à AFP Giulio Cellini, diretor da consultoria política Log Consultancy. "O governo identifica as redes sociais como o mecanismo através do qual as pessoas podem se informar".
A questionada reeleição de Maduro em 28 de julho gerou protestos que deixaram 25 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.000 detidos. Ativistas denunciam prisões por publicações nas redes.
"Na Venezuela há um toque de recolher na Internet", enfatiza Marco Ruiz, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa (SNTP). "Há centenas de venezuelanos que estão sendo perseguidos por suas expressões em diferentes redes sociais e dezenas deles foram detidos".
A legislação "presumivelmente", adverte Ruiz, "aumentaria a perseguição, a estigmatização e a judicialização" das vozes dissidentes.
Ecossistema midiático dizimado
A Espaço Público, que promove a liberdade de expressão, contabiliza mais de 400 jornais, estações de rádio e televisão fechados em duas décadas de governos chavistas.
As estações de televisão e rádio de sinal aberto operam em um clima de censura e autocensura, enquanto portais críticos da Internet são alvo de bloqueio por parte dos fornecedores locais de Internet.
Redes de notícias internacionais como a "CNN em Espanhol" também foram retiradas do ar pelas operadoras de TV a cabo.
A Venezuela ocupa o 156º lugar entre 180 países no índice de liberdade de imprensa de Repórteres Sem Fronteiras (RSF), atrás apenas da Nicarágua (163) e de Cuba (168) na América Latina.
No contexto da crise pós-eleitoral, o SNTP documentou as detenções de quatro repórteres e de outros dois jornalistas dedicados ao ativismo político. A organização sindical também tem relatado dezenas de demissões em veículos de comunicação estatais por retaliação a interações a favor da oposição nas redes.
'Venezuela pode viver sem o X'
Segundo Ñáñez, o Facebook é a rede social mais popular entre os venezuelanos, com 22 milhões de perfis; seguido pela chinesa Tik Tok, com 8 milhões de contas; e Instagram, com 7,9 milhões. De acordo com estes números, existem 2,7 milhões de contas no X neste país.
No entanto, é uma plataforma com peso político, utilizada como principal canal por líderes da oposição como María Corina Machado, que reivindica a vitória do candidato Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais.
"Seu bloqueio reduz seu alcance e, no caso da Venezuela, é uma rede muito política, muito sobre assuntos de interesse público", diz Correa.
Maduro, por sua vez, faz múltiplas aparições na ampla rede pública de mídia, a serviço da "Revolução Bolivariana".
Um desenho animado de propaganda, Superbigote, apresenta Maduro na televisão estatal como um super-herói com punho esquerdo de ferro que enfrenta monstros da oposição e dos Estados Unidos, país que tem liderado a pressão internacional contra ele. O inimigo em seu último episódio: Elon Musk caricaturado como um demônio.
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