Presidente Nicolás Maduro AFP
A falha teve origem na central hidrelétrica Simón Bolívar, principal geradora de eletricidade da Venezuela, na madrugada de sexta-feira. O país inteiro ficou na escuridão, revivendo o fantasma do enorme apagão de 2019, que durou em média cinco dias.
"Estamos normalizando, regularizando, passo a passo com garantias, com segurança", disse o presidente Nicolás Maduro na noite de sexta-feira, sem especificar detalhes para evitar, como explicou, um "contra-ataque": as interrupções do serviço são frequentes há uma década, especialmente no interior.
Maduro costuma apresentá-las como planos da oposição para derrubá-lo, embora os especialistas falem de falta de investimento e manutenção no sistema elétrico e nas suas redes de distribuição.
"Eu acho que o que aconteceu foi uma falha e a falha não devia ter maiores consequências, mas a precariedade do sistema elétrico venezuelano é tal que uma coisa levou à outra (...) E as redes de distribuição foram afetadas", disse à AFP o especialista em análise de riscos elétricos, José Aguilar.
"Supostamente se originou por descarta atmosférica" e os equipamentos de proteção "falharam" por falta de "manutenção ou substituição", disse, por sua vez, Víctor Poleo, ex-vice-ministro de Energia Elétrica.
"Intermitência"
Em estados andinos como Mérida e Táchira, ou nos seus vizinhos Lara e Zulia, no oeste, há registros de intermitência no serviço, embora sejam regiões normalmente afetadas pelas prolongadas interrupções diárias.
"Em Michelena [Táchira], chegou por volta da meia-noite, tinha chegado no início da tarde, mas saiu e [voltou, e desde então] não faltou mais", disse Thais Hernández, dentista de 29 anos, à AFP.
A ONG VE Sin Filtro, que mede o nível de conexão à Internet no país, reportou 92,7% de conectividade na madrugada deste sábado.
O serviço de metrô de Caracas também foi totalmente restabelecido, segundo autoridades de transporte.
Maduro falou do "papai e mamãe de todos os ataques que foram feitos a Guri", como é popularmente conhecida a hidrelétrica, que leva o nome da cidade onde está localizada, no estado de Bolívar.
"Anos de crise elétrica"
O incidente ocorreu um mês depois das eleições de 28 de julho, nas quais Maduro foi reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos, até 2031, em meio a denúncias de fraude.
Ainda antes das eleições, o governo alertou para um possível "ataque" ao sistema elétrico para impedir o processo ou tentar ganhar poder político através de "manobras desestabilizadoras".
"Quinze anos de crise elétrica (...) O regime de Maduro insiste em culpar a oposição", acrescentou Poleo. Os "apagões favorecem os regimes totalitários" porque lhes permitem "exercer maior controle sobre a população" e "desviar a atenção de seus próprios fracassos".
"É um ataque cheio de vingança, um ataque cheio de ódio que vem de setores fascistas", insistiu Maduro. "Peço justiça para os autores materiais e intelectuais deste ataque criminoso".
No radar: a líder da oposição María Corina Machado e o rival de Maduro nas eleições, Edmundo González Urrutia, para quem o presidente já pediu a prisão. Ambos estão na clandestinidade.
González Urrutia, de 75 anos, foi intimado a comparecer na sexta-feira ao Ministério Público, que abriu uma investigação criminal contra ele. Esta foi a terceira intimação, mas ele não compareceu. Não está claro como ficou esse procedimento em meio ao apagão nacional.
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