Negociações da COP16 sobre a biodiversidade se estenderam até a madrugadaAFP
Com os punhos erguidos e trajes tradicionais, os representantes dos povos indígenas celebraram a criação de um órgão permanente que os reconhecem como guardiões da natureza nas negociações da ONU sobre a biodiversidade.
"Este é um momento sem precedentes na história dos acordos ambientais multilaterais", declarou Camila Romero, representante indígena do Chile. A presidente da COP16, Susana Muhamad, comemorou com um bastão indígena.
Mas depois de 12 dias de debates, não foi concluído o texto do objetivo principal: aumentar os gastos globais para salvar a natureza para 200 bilhões de dólares anuais (1,16 trilhão de reais na cotação atual).
A missão da COP16, dois anos após o acordo de Kunming-Montreal, era potencializar os tímidos esforços do mundo para aplicar este roteiro desenhado para salvar o planeta e os seres vivos do desmatamento, superexploração, mudança climática e poluição, todos causados pela ação humana.
Mas ainda não há consenso sobre se os países ricos, emergentes e em desenvolvimento irão ceder na espinhosa questão do financiamento.
A sessão plenária começou com mais de quatro horas de atraso e continua sob chuvas tropicais torrenciais na cidade de Cali.
'Decepcionados'
Os países em desenvolvimento, em toda a África, reivindicam um novo fundo multilateral que substituiu o atual, podendo considerá-lo inadequado e injusto.
Mas o texto proposto limitou-se a estender as conversas sobre finanças além da cúpula e até a próxima na Armênia em 2026.
"Estamos totalmente decepcionados, não há criação de um fundo dedicado à biodiversidade, não há medidas contundentes para pressionar os países desenvolvidos para respeitar seus compromissos", declarou à AFP Daniel Mukubi, negociador da República Democrática do Congo.
Os países ricos, em particular a União Europeia (na ausência dos Estados Unidos, que não é signatário da convenção), consideram contraproducente a multiplicação de fundos, pois fragmentam a ajuda sem trazer dinheiro novo, que, em sua opinião, deveria vir do setor privado e países emergentes.
Os países desenvolvidos comprometeram-se a aumentar sua ajuda anual à conservação da natureza de 15 milhões de dólares (87 milhões de reais) para 30 milhões(174 milhões de reais) em 2030.
Fundo de Cali
Estes dados, muitos provenientes de espécies de países pobres, são utilizados principalmente em medicamentos e cosméticos, o que pode significar bilhões em lucros para seus criadores.
"A contribuição já não é voluntária", como exigiam os países ricos, "é mais ou menos obrigatória, o que é positivo", afirma Mukubi.
Muhamad propõe que empresas de certo porte que utilizem o DSI contribuam com 0,1% de suas receitas ou 1% de seus lucros para um fundo que chamaram "Fundo de Cali".
Sob a supervisão da ONU, esse fundo se encarregaria de distribuir o dinheiro arrecadado entre as comunidades e países que conservam estes recursos naturais ao longo dos séculos.
'Muito complexas'
Muhamad admitiu na quinta-feira que as negociações foram "muito complexas" e "todos têm de ceder alguma coisa" para chegar a um consenso.
O chefe da ONU, António Guterres, esteve dois dias em Cali com cinco chefes de Estado e dezenas de ministros para dar um novo impulso às negociações.
"O tempo é essencial. A sobrevivência da biodiversidade do nosso planeta - e a nossa própria sobrevivência - está em jogo", disse Guterres em uma tentativa de "acelerar" a tomada de decisões.
A conferência foi realizada com um grande destacamento de policiais e soldados, após ameaças de um grupo guerrilheiro da região, embora sem incidentes até o momento.
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