Pessoas retornam para suas casas ao sul de Beirute AFP
A trégua, em vigor desde às 4h (23h de terça, no horário de Brasília), interrompeu um conflito que deixou milhares de mortos e 900 mil deslocados no Líbano, além de dezenas de milhares de deslocados no norte de Israel.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou nesta quarta-feira que o exército vai "reforçar a sua mobilização" no sul do país, no âmbito da implementação deste acordo.
Sem esperar a autorização dos militares, milhares de habitantes do sul do Líbano, da periferia sul de Beirute e do Vale do Bekaa, no leste, todos redutos do Hezbollah, iniciaram a sua viagem de retorno para casa, observaram correspondentes da AFP.
Nos subúrbios ao sul da capital, bombardeados até o início da manhã desta quarta-feira, militantes do Hezbollah circulavam de moto agitando bandeiras amarelas do partido e gritando palavras de ordem elogiando Hassan Nasrallah, o seu emblemático líder que morreu no final de setembro em um ataque israelense.
"Voltamos a este bairro heroico que venceu, estamos orgulhosos", disse à AFP Nizam Hamadé, engenheiro que pretendia inspecionar sua casa.
A estrada que leva ao sul do Líbano estava obstruída por veículos e vans lotadas, com motoristas cantando e buzinando.
"Nosso sentimento é indescritível. O Líbano venceu, o Estado venceu, o povo venceu", gritou um pai de família.
O Exército libanês pediu à população que "aguardasse" a saída das tropas israelenses "antes de voltar às aldeias e vilarejos na linha da frente".
As Forças Armadas israelenses, que emitiram um aviso semelhante, anunciaram que haviam disparado contra um veículo que se aproximava das suas posições, forçando-o a recuar.
'Nova página'
Depois de quase um ano de disparos transfronteiriços, Israel lançou uma campanha de bombardeios massivos contra o Hezbollah em 23 de setembro e enviou tropas terrestres para o sul do Líbano uma semana depois.
Segundo as autoridades libanesas, pelo menos 3.823 pessoas morreram no país devido a este conflito, a maioria delas desde setembro. Do lado israelense, 82 soldados e 47 civis morreram em 13 meses, segundo as autoridades do país.
O acordo forjado durante semanas entre os Estados Unidos e a França significa um "novo começo" para o Líbano, comemorou na terça-feira o presidente americano, Joe Biden.
O primeiro-ministro libanês disse esperar que este acordo abra "uma nova página" na história do país e que, no processo, seja eleito um presidente da República, cargo vago há mais de dois anos.
O plano acordado prevê uma retirada progressiva durante 60 dias dos combatentes do Hezbollah e das tropas israelenses do sul do Líbano, na fronteira com Israel, para permitir a mobilização do exército libanês, explicou o enviado americano Amos Hochstein.
Segundo Biden, o acordo visa levar ao cessar permanente das hostilidades entre ambos os lados.
Hamas, 'disposto' a uma trégua
"Manteremos total liberdade de ação militar" no Líbano "em pleno acordo com os Estados Unidos", alertou. "Se o Hezbollah violar o acordo e tentar se rearmar, atacaremos".
O grupo islamista, que permitiu ao presidente do Parlamento libanês, Nabih Berri, negociar em seu nome, não comentou o acordo.
O Irã, o principal apoio militar e financeiro do Hezbollah e do Hamas e arqui-inimigo de Israel, celebrou o "fim da agressão".
Um alto funcionário do Hamas também descreveu o acordo como "uma conquista importante" e disse à AFP que o movimento palestino "está pronto para um acordo de cessar-fogo e um acordo sério para a troca de prisioneiros".
O Ministério das Relações Exteriores do Catar também aplaudiu o pacto e expressou a sua "esperança de que leve a um acordo semelhante" em Gaza.
Mas depois de aprovar o acordo no seu gabinete, Netanyahu garantiu que a trégua permitirá a Israel concentrar-se nas tensões com o Irã e na guerra com o Hamas em Gaza, palco de contínuos bombardeios.
O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, reiterou que o "objetivo final" de Israel é conseguir a libertação dos reféns detidos pelo Hamas.
A guerra eclodiu após o ataque sem precedentes lançado pelo Hamas contra Israel que matou 1.207 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais, incluindo reféns mortos ou mantidos em cativeiro.
A ofensiva israelense de retaliação em Gaza deixou pelo menos 44.282 mortos, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pela ONU.
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